terça-feira, 14 de julho de 2015

Peregrinos do Amor

"A vida é caminhar. Sou peregrino do amor. Vou semear a esperança
Deste mundo que há de vir. Eu não me canso de cantar". Essa música do Pe. Jonas Abib, Salesiano, nos fala de três coisas: caminhar, semear e cantar. Semear a esperança sem deixar de cantar. Somos sim peregrinos do amor e temos a missão de amar, amar caminhando. Ainda que a vida sempre esteja nos dando limões - que são muito azedos -  cantando os converteremos em limonadas.

Na peregrinação que fizemos pelos caminhos de D. Bosco e Madre Mazarello pudemos sentir tantas coisas diferentes. A pobreza dos personagens do passado que tiveram sempre uma missão: semear a esperança. D. Bosco entre os meninos desesperançados em uma Itália industrializada que explorava até mesmo as menores crianças em jornadas escorchantes de trabalho. Madre Mazarello entre as meninas perdidas nas montanhas do Piemonte, dando-lhes o trabalho dignificante e atendendo aos doentes agonizantes de tifo. Era quase uma revolução silenciosa. Uma mensagem para a própria Igreja. Uma mensagem que, embora religiosa, tinha forte cunho social. Afinal? Para quem Deus veio? Para todos! Havia um espírito muito especial: mudança! Mas não uma mudança de fora. Uma mudança que não quebraria a estrutura. Uma reforma por dentro.

Era a mesma casa montada sobre a mesma pedra original ("Tú és pedra") e tendo em seu cimo a mesma pedra angular ("que os pedreiros rejeitaram"). No peito desses santos havia uma forte mensagem: reforma de valores. Quando nos desviamos do caminho em um ângulo muito pequeno, infinitesimal, sabemos que com o passar do tempo acabamos muito longe do caminho. Perdidos. Alguém sempre precisa aparecer - um missionário - para trazer de volta a esse caminho ("Eu sou o caminho!"). E essa linha é o amor. Ou ainda, melhor, a amorevolezza salesiana - gestos sensíveis, perceptíveis e concretos de amar. Amar educando ou educar amando. Com exemplos antes das palavras.

Oras. E que não dizer daquele santo de Assis? Certamente inspiração para um jovem chamado João Melchior Bosco, seminarista inquieto e inovador. Ainda que morando debaixo de uma pequena escada, num lugar frio e feio, com pouco para se alimentar e muito por fazer. Bosco deve ter se lembrado de Francisco de Assis. Afinal Francisco também atendeu a um chamado: "Reforma a Minha Igreja".  E também dormiu em uma pedra no frio e com fome. Francisco era mais um revolucionário. Igreja dos pobres e para os pobres. Igreja do simples e do belo. Igreja do amor. Louco e sonhador diziam!

633 anos depois o mesmo chamado ao jovem João. Mais uma reforma. Novamente afastavam-se da linha mestra. Bosco e Maria da família Mazzarello reforçaram os pilares, rebocaram as rachaduras e deram uma boa pintura. E fizeram isso com os jovens e as jovens. Com muita alegria, oração e trabalho. Igreja dos fracos, dos jovens sem rumo, das crianças sem educação adequada.

E a nossa peregrinação em busca da verdade não pára. Diante de Angelo Giuseppe Roncalli, o "Papa Bom", são João XXIII, Franciscano secular nos deparamos novamente com a mensagem que se repete: "reforma, reforma, reforma...". Taxado de radicalista de esquerda pelos radicais. Homem simples. Salvador de judeus durante a II Guerra. Escapava do Vaticano para visitar as famílias mais humildes. Mais uma vez renovou a casa. Trouxe o pobre ao rito. A verdade para aquele que não a compreendia no 'latinez' estranho. Trouxe novamente o Jesus que caminhava entre o povo e visitava as casas. De que forma? Com bondade, simpatia, sorriso, jovialidade e simplicidade. Sorriso! "Eu não me canso de cantar!".

E agora? Que tempos vivemos? Que alegria! Novamente Francisco, Jorge Mario Bergoglio. E novamente a mensagem de reforma. De voltar ao caminho. Um novo Papa sorridente. Alegre! Simples! E então entendemos a nossa missão: fazer dos limões limonadas e trazer de volta a alegria. Mudar o mundo a partir da Igreja. Mudar a Igreja a partir do mundo. De dentro para fora. Mudando primeiro nossas atitudes e nosso coração. Aceitando novamente as diferenças e nos abrindo para todos os excluídos e marginalizados. Sendo Igreja com "I" maiúsculo novamente. Humildes, simples e de espírito pobre. Nunca pobres de espírito (ainda que teríamos um espacinho no paraíso). Mas de uma maneira especial. Sorrindo, cantando e levando a esperança.

Saímos de um Francisco, passamos por um João Bosco e uma Maria Mazarello, e então passamos por um outro João e um outro Francisco com a mesma mensagem: "onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver desespero que eu leve a esperança". Sendo peregrinos do amor sem jamais deixar de cantar. Que a contemplação pela janelinha da Valponasca não seja apenas ver, mas se transforme em um ímpeto de mudar!


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