terça-feira, 15 de abril de 2014

Duas Rosas

Duas Rosas

Na minha rua existiam duas rosas.
Uma era preta, a outra branca.
Rosa preta se foi em um dia cinza.
As mamangavas ficaram sem seu néctar.
Branca por cá ficou.
Depois de um tempo a rosa branca entristeceu-se.
Sua pétalas amarelaram,
Suas folhas murcharam.
Os beija-flores voavam em seu entorno.
E pediam ao jardineiro dos céus por ela.
O jardineiro afofou a terra, podou os ramos.
Adubou seus pés e limpou os galhos.

Hoje, num dia chuvoso, eu vi Rosa Branca.
Vestia colorido como a primavera.
Um bom dia e um sorriso tímido.
O primeiro em tanto tempo.
E Rosa branca fez uma brincadeira.
Me disse que ia sambar no Braz.
Rosa preta ainda vai ter que esperar.
Pois Rosa branca ainda vicejará no jardim.
Minha rua ficou de novo mais colorida.
Os beija-flores voltaram a sorrir.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Espécie Sob Sério Risco

Em geral não reproduzo aqui pensamentos de outrem. Mas esse parece aquele que tive vontade de ter e jamais tive. É o que penso e que por algum motivo saiu da boca de outra pessoa, Tomaz Wood Jr, na Carta Capital. Por favor, leia com atenção. Tenho cá com meus botões que você, sendo aluno, não lerá. Não faz parte de suas atividades diárias pensar em algo útil, algo que mude o país através de você. Se você é estudante devore essa informação. Quem sabe você um dia se torne professor, formulador de políticas públicas ou até mesmo o pai de novos estudantes, não de alunos. Se você é estudante da causa e não mero espectador que vê o mundo pela janela do Jornal Nacional, leia também. Quem sabe me ajude ao menos transmitir essa preocupação ecológica da extinção dos estudantes.

Procuram-se estudantes

(Tomaz Wood Jr. - Revista Carta Capital)
Diz-se que uma espécie encontra-se ameaçada quando a população decresce a ponto de situá-la em condição de extinção. Tal processo é fruto da exploração econômica e do desenvolvimento material, e atinge aves e mamíferos em todo o planeta. Nos trópicos, esse pode ser o caso dos estudantes. Curiosamente, enquanto a população de alunos aumenta, a de estudantes parece diminuir. Paradoxo? Parece, mas talvez não seja.

Aluno é aquele que atende regularmente a um curso, de qualquer nível, duração ou especialidade, com a suposta finalidade de adquirir conhecimento ou ter direito a um título. Já o estudante é um ser autônomo, que busca uma nova competência e pretende exercê-la, para o seu benefício e da sociedade. O aluno recebe. O estudante busca. Quando o sistema funciona, todos os alunos tendem a se tornar estudantes. Quando o sistema falha, eles se divorciam. É o que parece ocorrer entre nós: enquanto o número de alunos nos ensinos fundamental, médio e superior cresce, assombram-nos sinais do desaparecimento de estudantes entre as massas discentes.

Alguns grupos de estudantes sobrevivem, aqui e acolá, preservados em escolas movidas por nobres ideais e boas práticas, verdadeiros santuários ecológicos. Sabe-se da existência de tais grupos nos mais diversos recantos do planeta: na Coreia do Sul, na Finlândia e até mesmo no Piauí. Entretanto, no mais das vezes, o que se veem são alunos, a agir como espectadores passivos de um processo no qual deveriam atuar como protagonistas, como agentes do aprendizado e do próprio destino.

Alunos entram e saem da sala de aula em bandos malemolentes, sentam-se nas carteiras escolares como no sofá de suas casas, diante da tevê, a aguardar que o show tenha início. Após 20 minutos, se tanto, vêm o tédio e o sono. Incapazes de se concentrar, eles espreguiçam e bocejam. Então, recorrem ao iPhone, à internet e às mídias sociais. Mergulhados nos fragmentos comunicativos do penico digital, lambuzam-se de interrogações, exclamações e interjeições. Ali o mundo gira e o tempo voa. Saem de cena deduções matemáticas, descobertas científicas, fatos históricos e o que mais o plantonista da lousa estiver recitando. Ocupam seu lugar o resultado do futebol, o programa de quinta-feira e a praia do fim de semana.

As razões para o aumento do número de alunos são conhecidas: a expansão dos ensinos fundamental, médio e superior, ocorrida aos trancos e barrancos, nas últimas décadas. A qualidade caminhando trôpega, na sombra da quantidade. Já o processo de extinção dos estudantes suscita muitas especulações e poucas certezas. Colegas professores, frustrados e desanimados, apontam para o espírito da época: para eles, o desaparecimento dos estudantes seria o fruto amargo de uma sociedade doente, que festeja o consumismo e o prazer raso e imediato, que despreza o conhecimento e celebra a ignorância, e que prefere a imagem à substância.

Especialistas de índole crítica advogam que os estudantes estão em extinção porque a própria escola tornou-se anacrônica, tentando ainda domesticar um público do século XXI com métodos e conteúdos do século XIX. Múltiplos grupos de interesse, em ação na educação e cercanias, garantem a fossilização, resistindo a mudanças, por ideologia de outra era ou pura preguiça. Aqui e acolá, disfarçam o conservadorismo com aulas-shows, tablets e pedagogia pop. Mudam para que tudo fique como está.

Outros observadores apontam um fenômeno que pode ser causa-raiz do processo de extinção dos estudantes: trata-se da dificuldade que os jovens de hoje enfrentam para amadurecer e desenvolver-se intelectualmente. A permissividade criou uma geração mimada, infantilizada e egocêntrica, incapaz de sair da própria pele e de transcender o próprio umbigo. São crianças eternas, a tomarem o mundo ao redor como extensão delas próprias, que não conseguem perceber o outro, mergulhar em outros sistemas de pensamento e articular novas ideias. Repetem clichês. Tomam como argumentos o que copiam e colam de entradas da Wikipédia e do que mais encontram nas primeiras linhas do Google. E criticam seus mestres, incapazes de diverti-los e de fazê-los se sentir bem com eles próprios. Aprender cansa. Pensar dói.

Disponível em http://www.cartacapital.com.br/revista/794/procuram-se-estudantes-7060.html

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ministério do Ensino

Quando pensamos na educação no Brasil tenho um pressentimento de que cometemos alguns erros. O primeiro deles é uma confusão sobre o papel de cada um na formação da pessoa. Não na educação mas sim na formação. Segundo o dicionário a educação é a ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais nas pessoas. Mas essa é uma educação mais ampla, exatamente a que chamo aqui "formação".

A formação é calcada em um tripé: educação, instrução (ensino) e aprendizagem. Em cada uma dessas o ator é específico. Na educação é a família. No ensino a escola e sua estrutura. Na aprendizagem o próprio aluno. Não formamos ninguém se faltar uma das partes. Se a família deixa de dar educação falta o respeito, os bons modos e o caráter. Se o sistema escolar deixa de ensinar falta conteúdo para que o aluno aprenda. Falta também a infra-estrutura. Se o aluno não estuda ele não interna o aprendizado, esquece. Ao governo cabe o ensino. Dar condições para que o aluno, cidadão que respeita, que quer aprender, aprenda. O Governo deve fazer isso desde garantir uma boa alimentação (merenda) ao educando até a formação do professor que tem a tarefa de ensinar. Deve pagar bem para aqueles que ensinam de forma que eles possam se dedicar aos seus alunos, seja preparando aula, seja buscando recursos para recuperar aqueles com dificuldade e dando uma boa aula com exercícios sólidos e bons testes. Não há como se cobrar de um professor que leciona em 3 escolas, trabalha 60 horas semanais e não dedica tempo nem a sua própria família.

Mas cabe aos pais dar a educação. Colocar os princípios morais para as crianças e adolescentes. Isso não é tarefa fundamental da escola. Não deve ser terceirizado. Hoje em dia os pais tendem a delegar isso para a escola. Errado! Além disso, por falta de educação os alunos se sentem donos de suas vontades. São crianças e adolescentes inconsequentes que, sem saber direito o que lhes espera, desdenham os estudos. Priorizam aquilo que deveria estar em segundo plano. Da mesma forma transferem suas necessidades de aprendizado para as escolas. Acham que existe um sistema mágico de transferência (download) de conhecimento para suas cabeças. Também não fazem sua parte.

Nos níveis universitários o Governo Federal é o responsável constitucional pelo ensino. Nos níveis fundamental e médio a responsabilidade passa aos estados e municípios. Além de investirem 25% do que arrecadam tem ainda repasses do Governo Federal. É vizível o problema nesses níveis. Daí sou favorável a federalização da educação, especialmente no caso do ensino médio (Sen. Cristovam Buarque também propõe isso). Quem sabe assim o dinheiro é bem investido. Especialmente em salários.

Para evitar que os pais e alunos parem de pensar que educação como um todo é apenas responsabilidade da escola eu proponho a mudança do nome Ministério da Educação e Cultura para Ministério do Ensino e Cultura. Nem precisa mudar a sigla MEC.