quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tá quente!

Meio Ambiente e a Guerra da Água

Se você der uma olhada em um informativo "O Estafeta" (Fundação Christiano Rosa) de alguns anos atrás, 2001, vai ver que tratei de um assunto interessante. Informava que em 20 anos corríamos o risco de viver uma guerra da água. Seria algo que viveríamos em 2021, ou seja, daqui a míseros 7 anos. Os últimos acontecimentos somente reforçam essa minha previsão. Vejamos as últimas notícias:
"A principal nascente do Rio São Francisco está praticamente seca em São Roque de Minas. Ela fica no Parque da Serra da Canastra e os pequenos afluentes que a formam já deixaram de existir."O Estado de São Paulo. 23Set2014
"O problema da falta d'água em Itu (SP), que enfrenta racionamento desde fevereiro, tem afetado profundamente a vida dos moradores da cidade. Muitos relatam que já chegaram a ficar até 20 dias sem água nas torneiras(...) A insatisfação com o problema culminou em um protesto na tarde de segunda-feira (22), na frente da Câmara Municipal, que terminou em conflito com a Tropa de Choque da Polícia Militar". G1. 23Set2014
"A água do volume morto do Sistema Cantareira, que abastece um terço da população da Grande São Paulo (6,5 milhões de pessoas), pode acabar em até 50 dias" (...) "a água do Alto Tietê, responsável pelo abastecimento de 4,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, pode acabar entre 2 e 4 de dezembro". UOL, 23Set2014
Todos esses acontecimentos são apontados pelo comportamento anômalo de nosso clima. A chamada mudança climática global. Vertentes científicas discutem entre si os verdadeiros culpados de iniciar esse processo. Alguns apontam para causas naturais, isto é, o planeta se comporta assim de tempos em tempos. Outros dizem que o processo foi inciado por ação antrópica, isto é, do homem. Mas todos, ou quase todos, concordam que a ação humana aumenta seus efeitos. Que está aquecendo é óbvio, não há como negar. Vejamos as medidas atmosféricas desde 1880. O gráfico de anomalia (diferença em relação ao padrão) da temperatura, obtido junto a NOAA está em graus Farenheit. Ao final temos algo em torno de 0,75 graus Celsius.

O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,nascente-do-rio-sao-francisco-seca-em-minas-gerais,1565013
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Parece pouco? Não é. Isso tem tudo a ver com a energia acumulada na atmosfera. Imagine qual a massa de gases que envolvem nossa atmosfera. Tem idéia? São aproximadamente 5 x 1018 Kg.  Para você entender, 5 seguidos de 18 zeros, ou em palavras corriqueiras 5 quatrilhões de toneladas de ar. Usando uma equação relacionando massa e variação de temperatura obtemos quanto de energia acumulada tem aí. Chegamos aos assustador número de 3,75 x 1018 Joules. Joules são watts por segundo. Isso quer dizer que estamos falando numa energia acumulada capaz de entregar 4,34 x 1013  W em um dia.  Isso é o que Itaipu produz durante aproximadamente 10 anos. É muita, muita energia causada por um pequeno aquecimento de 0,75 graus Celsius. Mas aí você pergunta: e daí?

Daí que os fenômenos atmosféricos tem seus efeitos potencializados, aumentados de maneira catastrófica devido ao aquecimento. Ventos muito fortes causados pela distribuição desigual dessa energia pelo planeta. Chuvas e secas intensas e desbalanceadas. Aquecimento da água do mar e devastação causada por isso. Furacões com muito mais energia e potencial destrutivo. Falta de água aqui e ali. Maior desertificação acolá. Onde antes se plantava nada mais se planta ou se colhe. Safras mudam de lugar e populações terão de migrar. Fome. Guerra.

Colaboramos com isso em diversas maneiras. Certamente você já ouviu falar no "efeito estufa". Quando a luz do sol penetra na atmosfera terrestre ela traz uma série de radiações. Desde o infravermelho ao ultravioleta. Parte é refletida ao espaço e parte atinge o solo. Aquece o solo e é reemitida como infravermelho. Especialmente em solo descoberto (sem cobertura vegetal) e construções humanas. Ao ser reemitida a radiação infravermelho não consegue ultrapassar uma camada de gases específicos que estão em suspensão na atmosfera, especialmente o dióxido de carbono e o metano, e ficam "presos" na atmosfera. Isso acumula calor e aquece o ar. Você já sentiu isso quando parou seu carro no sol. A luz penetra, aquece as partes interiores e reemite radiação que não ultrapassa os vidros.


Produzimos CO2 (dióxido de carbono) diariamente pela queima de combustível fóssil, pelas queimadas de material vegetal e outras fontes. Metano pela criação de animais que usamos para nos alimentar, especialmente os bovinos. Com isso aumentamos esse efeito. Para piorar tiramos as florestas que absorvem radiação e trocamos por pastagens que emitem infravermelho. Degradamos o solo e retiramos a cobertura de folhas das florestas que retém a água por períodos mais secos. Deixamos uma imensa pegada ambiental com nossas ações.
É fácil perceber a escalada na produção de CO2 observando o gráfico da NOAA. É preciso parar isso! A questão é como?

A resposta é que isso não se faz sem investimento. Muito investimento. Levando-se em consideração que a população não pára de crescer, logo o consumo de carne também não, consequentemente a produção de gado também não. O aumento de metano resulta disso. Cada vaca produz entre 100 e 500 litros (por arroto) diariamente. São aproximadamente 1,5 bilhões de vacas no mundo e bilhões de outros animais. 14% dos gases de efeito estufa vem da agropecuária. É preciso investir especialmente na redução do CO2, uma vez que é difícil manejar a redução na produção de alimentos. Considere que países como a Índia, China e africanos consomem muito pouco. Imagine se esses países que detém mais de 1/3 da população da Terra resolvessem consumir tanto quanto os demais. 

A primeira ação deve atender dois pontos: produção de energia e transporte. O uso de energias limpas, especialmente a éolica e solar é um grande caminho. Infelizmente a eficiência das células solares é ainda pequena e seu custo muito alto. As eólicas dependem de constância dos ventos dentro de patamares seguros. Sem vento ou com vento excessivo não serve. Além disso tem custo de manutenção alto. Temos ainda as marés e ondas oceânicas que podem ser aproveitadas, especialmente num país como o Brasil. Mas essas são pouco eficientes. Para países que tem alta atividade sísmica existem as fontes geotermais. Tudo isso custa caro e produz pouco. Muito mais eficientes são nossas hidroelétricas. Essas tem algum impacto ambiental, mas não muito para efeito estufa. Além disso tem baixo custo para altos benefícios.  Já o transporte, apesar de caro, é facil de se resolver. Incentivar e dar subsídeos à compra e ao uso de veículos de tração humana auxiliada, bicicletas com Kers e elétricas assistidas (http://senseable.mit.edu/copenhagenwheel/wheel.html), carros híbridos (células combustíveis), carros elétricos e transporte coletivo é fundamental.

Para isso é preciso retirar os impostos da compra e importação dessas máquinas, facilitar a produção nacional e incentivar as pesquisas nesse sentido. Isso exige vultuosas quantias em dinheiro mas dão alto retorno tecnológico. Melhorar a malha ferroviária para transporte de cargas e passageiros, seja urbano ou interurbano é necessário. Criar linhas e corredores de ônibus eficientes e impor pedágios diferenciados para veículos elétricos e híbridos é outra linha de ação. Muitas dessas medidas são em princípio impopulares. Mas elas tem de vir ligadas a explicações claras sobre as mudanças em nosso planeta, especialmente aquelas que já estamos sentindo.

Sem isso, ou até mesmo com tudo isso, a guerra da água vai chegar. Já não chegou?
Tropa de Choque acionada durante protesto contra a falta de água na cidade de Itu, no interior de SP- World News
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,nascente-do-rio-sao-francisco-seca-em-minas-gerais,1565013

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