UMA SAUDADE EM PRETO E BRANCO
(poeminha pelos 50 anos do que nunca deveria ter sido)
Estou com saudade em preto e branco.
Onde as lutas eram uma só.
Meio tons não, nem solavancos.
Não havia lama, água e pó.
Tô com saudade da democracia.
Das diretas e da Clara Nunes.
Saudade de lutar noite e dia.
Sócrates e direito alhures.
Saudade suave do Jobim.
Das mãos dadas e cruzadas.
Das passeatas sem fim.
Das praças sempre lotadas.
Saudade do viver pleno direito.
Do Vinicius e Toquinho
Gonzaguinha e o respeito.
Cantos, poemas, banquinho.
Hoje nessa luta colorida.
foi-se o foco, a verdade.
Muitos tons, nenhum Tom.
Menos luta, mais vaidade.
Não se dão mais as mãos.
Cada um proteje o seu.
Antes éramos irmãos.
Irmandade se perdeu.
Nem todos os gris que eram.
Hoje se conservam assim.
Muitos adquiriram cores.
Não estão perto de mim.
As lutas pulverizaram-se.
Esqueceram o bem comum.
Triste sina nos reserva.
Cada um é cada um.
Quero voltar à luta.
Que travei e vi travar.
Quero gritar como gritei.
Por alguma coisa já.
Tanta beleza perdida.
Tanto cravo já murchou.
Inda hei de ver na vida.
no fundo o que ainda sou.
Um velho adolescente.
Cujo momento passou.
Mas que traz em sua mente.
Um passado que voou.
Ai que saudade em preto e branco.
Ai que alegria de estar lá.
Naquele tempo de luta e tranco.
Que jamais, jamais morrerá.
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