quarta-feira, 26 de março de 2014

UMA SAUDADE EM PRETO E BRANCO


(poeminha pelos 50 anos do que nunca deveria ter sido)


Estou com saudade em preto e branco.
Onde as lutas eram uma só.
Meio tons não, nem solavancos.
Não havia lama, água e pó.

Tô com saudade da democracia.
Das diretas e da Clara Nunes.
Saudade de lutar noite e dia.
Sócrates e direito alhures.

Saudade suave do Jobim.
Das mãos dadas e cruzadas.
Das passeatas sem fim.
Das praças sempre lotadas.

Saudade do viver pleno direito.
Do Vinicius e Toquinho
Gonzaguinha e o respeito.
Cantos, poemas, banquinho.

Hoje nessa luta colorida.
foi-se o foco, a verdade.
Muitos tons, nenhum Tom.
Menos luta, mais vaidade.

Não se dão mais as mãos.
Cada um proteje o seu.
Antes éramos irmãos.
Irmandade se perdeu.

Nem todos os gris que eram.
Hoje se conservam assim.
Muitos adquiriram cores.
Não estão perto de mim.

As lutas pulverizaram-se.
Esqueceram o bem comum.
Triste sina nos reserva.
Cada um é cada um.

Quero voltar à luta.
Que travei e vi travar.
Quero gritar como gritei.
Por alguma coisa já.

Tanta beleza perdida.
Tanto cravo já murchou.
Inda hei de ver na vida.
no fundo o que ainda sou.

Um velho adolescente.
Cujo momento passou.
Mas que traz em sua mente.
Um passado que voou.

Ai que saudade em preto e branco.
Ai que alegria de estar lá.
Naquele tempo de luta e tranco.
Que jamais, jamais morrerá.

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