segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma bomba



As vezes na vida nos vemos em uma situação difícil. Uma análise simples nos mostra que muitas coisas não funcionam. Outras funcionam em parte.

É quase impossível achar solução e não dá para fazer quase nada. No momento estou me sentindo numa situação semelhante. Isso me fez lembrar da situação japonesa no final da Segunda Guerra, em 1945. Não havia saída. Os aliados haviam tomado as ilhas no entorno. As batalhas nas frentes distantes haviam sido perdidas. Birmaneses, australianos e ingleses, entre outros, derrotavam as valentes e obstinadas forças japosesas. Os suprimentos não mais chegavam aos fronts avançados. A poderosa esquadra americana cortava qualquer entrada e saída de suprimentos. Não havia mais combustível para os aviões Zero. No desespero as máquina voadoras viravam mísseis com os pilotos Kamikazes dentro.

Parecia um fim melancólico e, considerando a obstinação japonesa, uma invasão em suas terras seria um derramento absurdo de sangue. Então o governo americano manda um B-29 jogar uma bomba sobre Hiroshima. O avião batizado de Enola Gay em homenagem à mãe do piloto joga a 'little boy' que explode nos céus da cidade. Era 6 de Agosto de 1945. Três dias depois era a vez de 'fat man' explodir sobre Nagasaki.

Mas as bombas trouxeram a paz. Uma paz duradoura que varreu o passado de atrocidades contra os povos invadidos. A bomba modificou os renitentes. A bomba foi o início de uma nova era. As vezes precisamos de bombas. Bombas que alterem vidas, negócios, estratégias, pensamentos e teimosias. Bombas que tragam a paz. Nesse momento antevejo uma bomba. Uma 'Fat man' que encerre esse período estranho que eu estou vivendo. Que exploda lá em cima e traga seus ventos radiativos para queimar tudo. Limpar tudo. Como já disse um dia Gilberto Gil:

A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Quem sabe a paz?

quarta-feira, 26 de março de 2014

UMA SAUDADE EM PRETO E BRANCO


(poeminha pelos 50 anos do que nunca deveria ter sido)


Estou com saudade em preto e branco.
Onde as lutas eram uma só.
Meio tons não, nem solavancos.
Não havia lama, água e pó.

Tô com saudade da democracia.
Das diretas e da Clara Nunes.
Saudade de lutar noite e dia.
Sócrates e direito alhures.

Saudade suave do Jobim.
Das mãos dadas e cruzadas.
Das passeatas sem fim.
Das praças sempre lotadas.

Saudade do viver pleno direito.
Do Vinicius e Toquinho
Gonzaguinha e o respeito.
Cantos, poemas, banquinho.

Hoje nessa luta colorida.
foi-se o foco, a verdade.
Muitos tons, nenhum Tom.
Menos luta, mais vaidade.

Não se dão mais as mãos.
Cada um proteje o seu.
Antes éramos irmãos.
Irmandade se perdeu.

Nem todos os gris que eram.
Hoje se conservam assim.
Muitos adquiriram cores.
Não estão perto de mim.

As lutas pulverizaram-se.
Esqueceram o bem comum.
Triste sina nos reserva.
Cada um é cada um.

Quero voltar à luta.
Que travei e vi travar.
Quero gritar como gritei.
Por alguma coisa já.

Tanta beleza perdida.
Tanto cravo já murchou.
Inda hei de ver na vida.
no fundo o que ainda sou.

Um velho adolescente.
Cujo momento passou.
Mas que traz em sua mente.
Um passado que voou.

Ai que saudade em preto e branco.
Ai que alegria de estar lá.
Naquele tempo de luta e tranco.
Que jamais, jamais morrerá.

terça-feira, 25 de março de 2014

Zumbi Está Sendo Bom ou Mal?

Quando eu era adolescente, 16 , 17 por aí, eu participei de um grupo de teatro em Piquete. Com a direção do Sérgio Maduro, artista e poeta de Piquete, já falecido, montamos diversas peças. Uma delas, "O Arena Conta Zumbi" de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo. Logo no início da peça os atores cantam a que se propõe esse espetáculo. Tentar achar a verdade sobre Zumbi dos Palmares. Uma frase é cantada dizendo o seguinte: "Há lenda e há mais lenda, há verdade e há mentira. De tudo usamos um pouco de forma que servirá a entender quem está com a verdade e quem está com a mentira"(1'10'' do vídeo).

Usando um pouco de minha veia filosófica eu fico pensando nos problemas estruturais do Brasil. Transporte, educação, burocracia, ciência, tecnologia, inovação e tantas outras coisas. Tem tanta coisa que precisa ser corrigida que dá um nó nas idéias. Tenho visto muito palpite e muito mais desinformação. Carecem idéias, sobram questionamentos e críticas. Ontem em reunião com uma pessoa do governo Japonês discutíamos isso. A infraestrutura do país e a falta de planejamento. O que me deixa uma pulga imensa atrás da orelha é ver que é muito mais fácil trabalhar com as pessoas de menor grau de educação, mas ainda assim educados, do que com os de alto grau, os "ditos e sabidos" doutores - quer sejam de título real ou de tratamento. Os "intendidos" não querem se enquadrar nas burocracias e planejamentos necessários. Se sentem em um mundo que flutua acima das nuvens. Lá em cima daquele olimpo virtual eles olham os pobres mortais aqui embaixo querendo atrapalhar aquele velho status quo onde as coisas aconteciam quando eles iam até as senzalas e mandavam fazer na hora.

Então aparecem notícias e comentários que são lendas e mais lendas que precisam ser verificadas. Isso nos ajuda a focar nas reais necessidades estruturantes desse país. Pensar em quem está com a verdade é fundamental. E a verdade é sempre inteira pois uma meia verdade é uma mentira.

Afinal Zumbi tem sido bom ou mal?

Nessa conversa que tive com o enviado do governo do Japão pude perceber a visão externa e bem asiática sobre o Brasil. Nossa falta de planejamento estruturante nos leva a certas vergonhas institucionais. Essa visão externa do Brasil, pelos fechadinhos e maravilhosos olhos asiáticos, não são mentiras. Realmente somos desorganizados e temos uma tarefa hercúlea em nos profissionalizar. Mas esse caminho obrigatoriamente passa pela verdade dos fatos. Não dá para fincar estacas em terreno pantanoso da mentira e construir o arcabouço de um país mais organizado. Fatos. É preciso que usemos fatos.

Usando como referência a teoria dos Fractais (Benoît Mandelbrot) que trata da autossimilaridade exata, ou seja, a forma em que a autossimilaridade é mais marcante, evidente (e o fractal é idêntico em diferentes escalas), posso sem medo de errar inferir que as redes sociais também demonstram essa particularidade. Vejo nelas a mesma coisa de quando olho o macro. Para fazer valer um fato pessoas utilizam mentiras e meias-verdades. Daí discorrem-se teorias e propõe-se ações. As ações são então resultados das análises de fatos falsos. Logo qualquer projeto, idéia ou proposta não pára em pé. O mesmo acontece em grandes escalas. Faltam fatos-verdades para assentar as decisões.

Dessa maneira decisões que chamamos de certeza se convertem em pó e ficamos com medo em acreditar nelas. Pior é quando isso é visto lá de fora. Não é a toa que para algumas nações somos paizinho não confiável.

Mas antes de exigir dos governos (Federal, Estadual e Municipal) é preciso que mudemos. Uma mudança de dentro pra fora. É preciso que finquemos nossos fundamentos em verdades. Assim é possível ver "A" verdade. E ver a verdade não é simples. Temos que buscar os fatos, e mais trabalhoso ainda, buscá-la em diversas fontes. Depois de ver é preciso julgar. Para julgar é preciso entender as motivações que levaram ao fato. Novamente excluir as lendas e mentiras. Entender nosso passado ajuda. Entender a estrutura de poder e a estrutura dominante. O Passado. Então julgamos e temos que tomar ações. Ações verdadeiras e planejadas. Com cuidado. Analisando os riscos. Nessa hora vale uma dose bem razoável de humildade. Afinal não podemos agir segundo a nossa óptica. É preciso olhar com outros olhos. Por exemplo: nas questões estruturantes do Brasil, é possível olhar com o olhar sulista? Já dizia o grande Milton:

"A novidade é que o Brasil não é só litoral!/É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul./Tem gente boa espalhada por esse Brasil,/que vai fazer desse lugar um bom país!"

Quando falamos de "Bolsa Família" por exemplo olhamos com olhares sulistas. Oras, precisamos olhar com os olhos daqueles que passam fome. Precisamos olhar de uma forma diferenciada e analisar profundamente toda a estrutura por detrás do modelo. Quais as medidas estruturantes que ele trás? É só assistencialismo mesmo? É compra de voto como dizem alguns? Sem saber a verdade não dá para analisar e propor outra estrutura.

“Os donos dos meios de produção dizem que não se pode dar o peixe ao pobre, que é preciso ensinar a pescar; mas a partir do momento em que destruímos seu barco, roubamos sua carga e lhe colocamos grilhões, temos de começar por lhes dar.”(José Mujica)

Espero que em um dia próximo o Brasil aprenda a se estruturar. Que para isso isso use as bases rochosas da verdade: inteira, factual. Espero que mudemos nós mesmos, de dentro para fora, e mais do que somente críticas que mostremos caminhos possíveis. A crítica cansa. A crítica mentirosa enerva e a falta de proposta desanima.

Ganga Zumba vem é aí!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Pulei pela Janela

Da primeira vez eu mesmo deixei o Facebook. Não suportava mais ver tanta coisa sendo publicada e espalhada sem que sequer dessem uma pequena investigada. Deixei o face e fiquei fora. Alguns amigos virtuais disseram que haviam ficado tristes. Gostavam do que eu publicava. Mas eu, eu, conhecido nas sendas do INPE como "nervo" ou ainda "GG", devido a minha falta de paciência, não aguentava mais. Havia acabado a paciência. Ninguém mais, ou quase ninguém, falava sobre isso. Ninguém, ou quase ninguém, se importava em tantas mentiras. Deixavam rolar. Eu indignado e sem paciência disse adeus. Bye bye rede social. Passei pro meu querido google+. Nada de face. "Tanta farpa tanta mentira, tanta falta do que dizer, nem sempre é "so easy" se viver". Dizia Lulu Santos, o guru. Mas meu coração ficava pensando assim: o que será que estão dizendo por lá? Amigos vinham comentar: "Você viu o que o governo fez? Está matando as criancinhas nos postos de saúde....etc". E eu perguntava: de onde você tirou isso? E então a resposta: "está lá no facebook, todo mundo já está postando". Pois é. Então me disse o guru: "Hoje eu não consigo mais me lembrar de quantas janelas me atirei e quanto rastro de incompreensão eu já deixei. Tantos bons quanto maus motivos, tantas vezes desilusão". Havia me atirado de mais uma janela. Então voltei. Então passei de novo a perder meu tempo desmascarando as bobagens, as mentiras e as calúnias. Como sempre, essas não acabam. Existe uma central de boatos e de mentiras graçando pelas redes. Aquilo que era trabalho da fofoqueira da esquina e da rádio peão virou viral. Mas agora com recursos eletrônicos. Tem até imagem para mostrar.

Então não é possivel que seja falso, dizem alguns. Não é? Pena, mas é sim. Falso porque pegam vídeos de um país e dizem ser aqui. Juntam trechos de entrevista para dar conotação de pensamentos jamais pensados. Ou colocam personagens famosas e interlocutores estrangeiros para tornar uma mentira tão real que é impossível rebatê-la. Então eu grito: GENTE USE SUA INTELIGÊNCIA. É um dom que Deus lhe deu, um talento. Não enterre seu talento. "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes".

Mas justo quando eu pensei que estava quase sozinho, ele, o pensador mais atual e justo, aquele que detém minha admiração, o nosso querido (nosso porque pouco importa se você é de outra religião) Papa Francisco vem nos dizer:

"Para mim, os pecados da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’. Mas a desinformação é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a outra metade"
.

Lavou minha alma. E ainda que em algum momento eu tenha me atirado pela janela, ato que fiz inúmeras vezes e por certo acabarei um dia fazendo de novo - aliás quem não é humano que está lendo isso? - valeu a pena ter voltado. Agora não sou uma voz que soa no deserto. No meu deserto unem-se novas vozes. Quem sabe um dia seremos um coral de vozes nesse deserto chamado internet.