Zumbi Está Sendo Bom ou Mal?
Quando eu era adolescente, 16 , 17 por aí, eu participei de um grupo de teatro em Piquete. Com a direção do Sérgio Maduro, artista e poeta de Piquete, já falecido, montamos diversas peças. Uma delas, "O Arena Conta Zumbi" de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo. Logo no início da peça os atores cantam a que se propõe esse espetáculo. Tentar achar a verdade sobre Zumbi dos Palmares. Uma frase é cantada dizendo o seguinte: "Há lenda e há mais lenda, há verdade e há mentira. De tudo usamos um pouco de forma que servirá a entender quem está com a verdade e quem está com a mentira"(1'10'' do vídeo).
Usando um pouco de minha veia filosófica eu fico pensando nos problemas estruturais do Brasil. Transporte, educação, burocracia, ciência, tecnologia, inovação e tantas outras coisas. Tem tanta coisa que precisa ser corrigida que dá um nó nas idéias. Tenho visto muito palpite e muito mais desinformação. Carecem idéias, sobram questionamentos e críticas. Ontem em reunião com uma pessoa do governo Japonês discutíamos isso. A infraestrutura do país e a falta de planejamento. O que me deixa uma pulga imensa atrás da orelha é ver que é muito mais fácil trabalhar com as pessoas de menor grau de educação, mas ainda assim educados, do que com os de alto grau, os "ditos e sabidos" doutores - quer sejam de título real ou de tratamento. Os
"intendidos" não querem se enquadrar nas burocracias e planejamentos necessários. Se sentem em um mundo que flutua acima das nuvens. Lá em cima daquele olimpo virtual eles olham os pobres mortais aqui embaixo querendo atrapalhar aquele velho status quo onde as coisas aconteciam quando eles iam até as senzalas e mandavam fazer na hora.
Então aparecem notícias e comentários que são lendas e mais lendas que precisam ser verificadas. Isso nos ajuda a focar nas reais necessidades estruturantes desse país. Pensar em quem está com a verdade é fundamental. E a verdade é sempre inteira pois uma meia verdade é uma mentira.
Afinal Zumbi tem sido bom ou mal?
Nessa conversa que tive com o enviado do governo do Japão pude perceber a visão externa e bem asiática sobre o Brasil. Nossa falta de planejamento estruturante nos leva a certas vergonhas institucionais. Essa visão externa do Brasil, pelos fechadinhos e maravilhosos olhos asiáticos, não são mentiras. Realmente somos desorganizados e temos uma tarefa hercúlea em nos profissionalizar. Mas esse caminho obrigatoriamente passa pela verdade dos fatos. Não dá para fincar estacas em terreno pantanoso da mentira e construir o arcabouço de um país mais organizado. Fatos. É preciso que usemos fatos.
Usando como referência a teoria dos Fractais (Benoît Mandelbrot) que trata da autossimilaridade exata, ou seja, a forma em que a autossimilaridade é mais marcante, evidente (e o fractal é idêntico em diferentes escalas), posso sem medo de errar inferir que as redes sociais também demonstram essa particularidade. Vejo nelas a mesma coisa de quando olho o macro. Para fazer valer um fato pessoas utilizam mentiras e meias-verdades. Daí discorrem-se teorias e propõe-se ações. As ações são então resultados das análises de fatos falsos. Logo qualquer projeto, idéia ou proposta não pára em pé. O mesmo acontece em grandes escalas. Faltam fatos-verdades para assentar as decisões.
Dessa maneira decisões que chamamos de certeza se convertem em pó e ficamos com medo em acreditar nelas. Pior é quando isso é visto lá de fora. Não é a toa que para algumas nações somos paizinho não confiável.
Mas antes de exigir dos governos (Federal, Estadual e Municipal) é preciso que mudemos. Uma mudança de dentro pra fora. É preciso que finquemos nossos fundamentos em verdades. Assim é possível ver "A" verdade. E ver a verdade não é simples. Temos que buscar os fatos, e mais trabalhoso ainda, buscá-la em diversas fontes. Depois de ver é preciso julgar. Para julgar é preciso entender as motivações que levaram ao fato. Novamente excluir as lendas e mentiras. Entender nosso passado ajuda. Entender a estrutura de poder e a estrutura dominante. O Passado. Então julgamos e temos que tomar ações. Ações verdadeiras e planejadas. Com cuidado. Analisando os riscos. Nessa hora vale uma dose bem razoável de humildade. Afinal não podemos agir segundo a nossa óptica. É preciso olhar com outros olhos. Por exemplo: nas questões estruturantes do Brasil, é possível olhar com o olhar sulista? Já dizia o grande Milton:
"A novidade é que o Brasil não é só litoral!/É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul./Tem gente boa espalhada por esse Brasil,/que vai fazer desse lugar um bom país!"
Quando falamos de "Bolsa Família" por exemplo olhamos com olhares sulistas. Oras, precisamos olhar com os olhos daqueles que passam fome. Precisamos olhar de uma forma diferenciada e analisar profundamente toda a estrutura por detrás do modelo. Quais as medidas estruturantes que ele trás? É só assistencialismo mesmo? É compra de voto como dizem alguns? Sem saber a verdade não dá para analisar e propor outra estrutura.
“Os donos dos meios de produção dizem que não se pode dar o peixe ao pobre, que é preciso ensinar a pescar; mas a partir do momento em que destruímos seu barco, roubamos sua carga e lhe colocamos grilhões, temos de começar por lhes dar.”(José Mujica)
Espero que em um dia próximo o Brasil aprenda a se estruturar. Que para isso isso use as bases rochosas da verdade: inteira, factual. Espero que mudemos nós mesmos, de dentro para fora, e mais do que somente críticas que mostremos caminhos possíveis. A crítica cansa. A crítica mentirosa enerva e a falta de proposta desanima.
Ganga Zumba vem é aí!