quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Você pode não acreditar nele também. Mas ele existe. E é Argentino. E traz a paz!


Acredite. É verdade!

Não sei se você acredita em Jesus Cristo. Mesmo porque isso não importa. Não ao menos para você, pois não? Talvez você nem acredite que a figura existiu. Mas convenhamos, se ele não existiu o escritor que o criou deveria ganhar um Nóbel de literatura. Afinal a obra é fantástica e faz sucesso a mais de dois mil anos (ou quase isso). A obra é de uma sutileza sem igual. Mas vamos a uma pequena análise desse personagem.




Jesus nasceu lá no meio de uma terra que estava sobre jugo de outro país. Roma. A toda poderosa e temida Roma. Nasceu no meio de um povo que ao mesmo tempo odiava essa semi-escravidão e onde haviam aqueles que dela se aproveitavam. Sempre foi assim. Sempre será. Ninguém sabe muito bem como ele cresceu. Os Autores dos livros que contam a mesma história sob pontos de vista diferentes não estavam muito interessados em contar sobre sua infância e adolescência. Um ou outro episódio apenas. Se resumem a tratar de um curto espaço de tempo entre seu aparecimento público e sua trágica morte.

Esse jovem trazia uma mensagem baseada em apenas uma palavra: Amor. Se dizia filho de Deus. Direto. Sem intermediários segundo os relatos dos autores. Apenas gerado como homem no ventre de uma mulher. Mas seu pai era um dos membros de um Deus trindade e que por um mistério estranho eram e ainda são um só. Nascido sob leis judias ele as respeitava. Mas trazia uma nova mensagem.


Nos livros judeus, Deus era vingativo e por vezes atacava a criatura. O relacionamento entre esse criador e sua criatura era complicado. A criatura vivia desobedecendo e Deus punia. Afogou a Terra e todos seus homens deixando apenas uma família.  Transformou aliados em estátuas de sal. Destruiu cidades com bolas de fogo. Certa vez Deus dispara uma praga que mata os filhos primogênitos de centenas de famílias, envia pragas para libertar seu povo. Um exército que ia perseguindo os Judeus é afogado pelo Mar Vermelho.  Soldados, generais, cavalos e cavaleiros. Todos mortos. Tudo isso parece estranho. Afinal o poder estava com o Deus e ele, segundo os livros, já havia demonstrado esse poder de diversas formas. Porque apenas não manteve a coluna que separava os Judeus dos soldados?



Mas Jesus vem com esse discurso de que Deus é amor. Se Deus é amor ele não seria vingativo. Não mataria inocentes apenas para livrar seu povo eleito. Aliás qual o motivo de Deus “eleger” um povo?   Sigamos.

Esse jovem traz um discurso onde diz “amai os vossos inimigos”, “perdoai os que vos odeiam”, etc. Parece até meio óbvio que as cabeças beligerantes iriam tramar sua morte. Jesus não criou ritos ou símbolos. Não se disse dessa ou daquela religião específica. Nasceu judeu e foi judeu até a morte. Mas esteve lá no meio dos mestres e sábios para ensinar. Este é o relato dos escritores. Veio trazer a verdade que é o amor. E ele mesmo se dizia "A" verdade. Mais uma vez sua morte se faz necessária. É óbvio. Como suportar um reformista desses? Jamais!

Esse jovem ensinou que o amor se basta. E ensinou que devemos amar a Deus, seu pai. Não com aquela atitude de bater no peito e cingir a cintura. Seu ensinamento foi simples. Amar a Deus na figura do próximo. Na figura do inimigo. Mas que ousadia! Que subversivo! Dizer que Deus está a seu lado? Naquele chato? Naquele cara sacana que só quer seu mal? Ah não! Vamos crucificá-lo! Para esses inimigos eu prefiro o Deus que me vinga. Certamente esse era o pensamento dos poderosos.







Pois bem. Pois bem. Hoje temos um pouco mais do mesmo. Um senhor simpático e sorridente chamado Bergóglio que adotou o nome de Francisco, quem poderia imaginar? Um argentino de ascendência italiana. Ele está fazendo o mesmo. Dizendo as mesmas palavras. Os escritores dizem que Jesus deixou as chaves na mão de Pedro. A tradição relata que Pedro passou para Lino. Lino entregou para Anacleto. Até que um dia Bento entregou para Francisco. E esse homenzinho simples pegou a chave e resolveu abrir as portas dessa Igreja. Para quem? Para todos! Os amigos, os inimigos, os fracos, as mulheres, os homossexuais, os que não tem religião, os ateus, os necessitados. Enfim todos.

Você pode não acreditar nele também. Mas ele existe. E é Argentino. E traz a paz!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Bom dia

 Bom dia!



Acordo cedo. O sol ainda amarela o horizonte. Deitado no quarto de janela aberta só percebo o muro que separa minha casa e a da vizinha. De cor amarelada pela luz e pedindo pintura. A trinca faz um desenho estranho que parece um pequeno rio visto lá do alto. O serpenteio me lembra a vida toda cheia de percalços. Levantar é um sacrifício. Então serve pensar. O que espera por mim nesse dia? Os planos que fiz decerto não acontecerão de novo. De noite ao deitar o “por fazer” ainda estará ali numa das curvas daquela trinca. Imutável. Que desafios se apresentam? Todos os dias os mesmos e os novos. Se acumulam feito sacos de carvão nas carroçarias dos caminhões. Cada dia mais alto. Até que tombam um dia qualquer. Quem encontrarei? Os mesmos rostos de sempre? E darei o mesmo e seco bom dia. Sorriso amarelo no rosto. Bom dia! Bom dia! O pedreiro que enrola um cigarro para pitar na esquina. Bom dia! Os catadores de lixo que fuçam nos sacos a procura de ouro. Bom dia! A trabalhadora apressada que todo dia quase perde a condução. Bom dia! Os idosos que esperam o carro da saúde. Bom dia com muita esperança! Os mais idosos que apenas esperam o dia de partir. Bom dia! Bom dia com voz rouca e sem forças. Uma pequena oração ainda deitado. Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio que eu leve o amor.

Os pensamentos distraídos pelo canto do bem-te-vi vão soletrando as palavras. Onde houver dúvidas que eu leve a fé. Antes do “fazei que eu procure mais” me ponho de pé. Descalço sinto o chão frio do banheiro. É dando que se recebe. Apesar da reprovação daquela imagem no espelho deixarei a barba para amanhã. Reparando aqueles tantos fios brancos que não tinha poucos anos atrás e ainda pensando: e é morrendo que se vive para a vida eterna. A vida eterna é fácil. Difícil é chegar nela dizem os teólogos. Para isso preciso tomar meu café com leite e comer aquele pão amanhecido que torro na chapa com manteiga. As palavras da pequena oração vão se perdendo e a filosofia da vida toma conta do meu dia. Roupa trocada, dentes escovados, perfume, crachá, telefone, canetas. O mesmo ritual diário. E então saio às ruas. Onde há ódio, onde há ofensa, onde há discórdia, onde há dúvida, onde há erro, onde há desespero,  onde há tristeza e onde há trevas. E assim na densa nuvem da incerteza do dia sumo por entre a neblina da vida. Ainda que saiba que ao final do dia a mesma trinca esteja em meu muro, quem sabe um pouco mais crescida, me perco nas vielas do consolo, da compreensão, do perdão e da morte.  Corto algumas cabeças do “por fazer” que se comporta como a Hidra de Lerna. Não me resta alternativa ao seu bafo mortal. Corto as que posso. Os encontros se repetem. Boa tarde. O Sol fechou seu arco.  No ocaso resta-me amar. Profundamente. De volta aos muros. Ao quarto. À trinca. Boa noite e até amanhã.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tá quente!

Meio Ambiente e a Guerra da Água

Se você der uma olhada em um informativo "O Estafeta" (Fundação Christiano Rosa) de alguns anos atrás, 2001, vai ver que tratei de um assunto interessante. Informava que em 20 anos corríamos o risco de viver uma guerra da água. Seria algo que viveríamos em 2021, ou seja, daqui a míseros 7 anos. Os últimos acontecimentos somente reforçam essa minha previsão. Vejamos as últimas notícias:
"A principal nascente do Rio São Francisco está praticamente seca em São Roque de Minas. Ela fica no Parque da Serra da Canastra e os pequenos afluentes que a formam já deixaram de existir."O Estado de São Paulo. 23Set2014
"O problema da falta d'água em Itu (SP), que enfrenta racionamento desde fevereiro, tem afetado profundamente a vida dos moradores da cidade. Muitos relatam que já chegaram a ficar até 20 dias sem água nas torneiras(...) A insatisfação com o problema culminou em um protesto na tarde de segunda-feira (22), na frente da Câmara Municipal, que terminou em conflito com a Tropa de Choque da Polícia Militar". G1. 23Set2014
"A água do volume morto do Sistema Cantareira, que abastece um terço da população da Grande São Paulo (6,5 milhões de pessoas), pode acabar em até 50 dias" (...) "a água do Alto Tietê, responsável pelo abastecimento de 4,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, pode acabar entre 2 e 4 de dezembro". UOL, 23Set2014
Todos esses acontecimentos são apontados pelo comportamento anômalo de nosso clima. A chamada mudança climática global. Vertentes científicas discutem entre si os verdadeiros culpados de iniciar esse processo. Alguns apontam para causas naturais, isto é, o planeta se comporta assim de tempos em tempos. Outros dizem que o processo foi inciado por ação antrópica, isto é, do homem. Mas todos, ou quase todos, concordam que a ação humana aumenta seus efeitos. Que está aquecendo é óbvio, não há como negar. Vejamos as medidas atmosféricas desde 1880. O gráfico de anomalia (diferença em relação ao padrão) da temperatura, obtido junto a NOAA está em graus Farenheit. Ao final temos algo em torno de 0,75 graus Celsius.

O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,nascente-do-rio-sao-francisco-seca-em-minas-gerais,1565013
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Parece pouco? Não é. Isso tem tudo a ver com a energia acumulada na atmosfera. Imagine qual a massa de gases que envolvem nossa atmosfera. Tem idéia? São aproximadamente 5 x 1018 Kg.  Para você entender, 5 seguidos de 18 zeros, ou em palavras corriqueiras 5 quatrilhões de toneladas de ar. Usando uma equação relacionando massa e variação de temperatura obtemos quanto de energia acumulada tem aí. Chegamos aos assustador número de 3,75 x 1018 Joules. Joules são watts por segundo. Isso quer dizer que estamos falando numa energia acumulada capaz de entregar 4,34 x 1013  W em um dia.  Isso é o que Itaipu produz durante aproximadamente 10 anos. É muita, muita energia causada por um pequeno aquecimento de 0,75 graus Celsius. Mas aí você pergunta: e daí?

Daí que os fenômenos atmosféricos tem seus efeitos potencializados, aumentados de maneira catastrófica devido ao aquecimento. Ventos muito fortes causados pela distribuição desigual dessa energia pelo planeta. Chuvas e secas intensas e desbalanceadas. Aquecimento da água do mar e devastação causada por isso. Furacões com muito mais energia e potencial destrutivo. Falta de água aqui e ali. Maior desertificação acolá. Onde antes se plantava nada mais se planta ou se colhe. Safras mudam de lugar e populações terão de migrar. Fome. Guerra.

Colaboramos com isso em diversas maneiras. Certamente você já ouviu falar no "efeito estufa". Quando a luz do sol penetra na atmosfera terrestre ela traz uma série de radiações. Desde o infravermelho ao ultravioleta. Parte é refletida ao espaço e parte atinge o solo. Aquece o solo e é reemitida como infravermelho. Especialmente em solo descoberto (sem cobertura vegetal) e construções humanas. Ao ser reemitida a radiação infravermelho não consegue ultrapassar uma camada de gases específicos que estão em suspensão na atmosfera, especialmente o dióxido de carbono e o metano, e ficam "presos" na atmosfera. Isso acumula calor e aquece o ar. Você já sentiu isso quando parou seu carro no sol. A luz penetra, aquece as partes interiores e reemite radiação que não ultrapassa os vidros.


Produzimos CO2 (dióxido de carbono) diariamente pela queima de combustível fóssil, pelas queimadas de material vegetal e outras fontes. Metano pela criação de animais que usamos para nos alimentar, especialmente os bovinos. Com isso aumentamos esse efeito. Para piorar tiramos as florestas que absorvem radiação e trocamos por pastagens que emitem infravermelho. Degradamos o solo e retiramos a cobertura de folhas das florestas que retém a água por períodos mais secos. Deixamos uma imensa pegada ambiental com nossas ações.
É fácil perceber a escalada na produção de CO2 observando o gráfico da NOAA. É preciso parar isso! A questão é como?

A resposta é que isso não se faz sem investimento. Muito investimento. Levando-se em consideração que a população não pára de crescer, logo o consumo de carne também não, consequentemente a produção de gado também não. O aumento de metano resulta disso. Cada vaca produz entre 100 e 500 litros (por arroto) diariamente. São aproximadamente 1,5 bilhões de vacas no mundo e bilhões de outros animais. 14% dos gases de efeito estufa vem da agropecuária. É preciso investir especialmente na redução do CO2, uma vez que é difícil manejar a redução na produção de alimentos. Considere que países como a Índia, China e africanos consomem muito pouco. Imagine se esses países que detém mais de 1/3 da população da Terra resolvessem consumir tanto quanto os demais. 

A primeira ação deve atender dois pontos: produção de energia e transporte. O uso de energias limpas, especialmente a éolica e solar é um grande caminho. Infelizmente a eficiência das células solares é ainda pequena e seu custo muito alto. As eólicas dependem de constância dos ventos dentro de patamares seguros. Sem vento ou com vento excessivo não serve. Além disso tem custo de manutenção alto. Temos ainda as marés e ondas oceânicas que podem ser aproveitadas, especialmente num país como o Brasil. Mas essas são pouco eficientes. Para países que tem alta atividade sísmica existem as fontes geotermais. Tudo isso custa caro e produz pouco. Muito mais eficientes são nossas hidroelétricas. Essas tem algum impacto ambiental, mas não muito para efeito estufa. Além disso tem baixo custo para altos benefícios.  Já o transporte, apesar de caro, é facil de se resolver. Incentivar e dar subsídeos à compra e ao uso de veículos de tração humana auxiliada, bicicletas com Kers e elétricas assistidas (http://senseable.mit.edu/copenhagenwheel/wheel.html), carros híbridos (células combustíveis), carros elétricos e transporte coletivo é fundamental.

Para isso é preciso retirar os impostos da compra e importação dessas máquinas, facilitar a produção nacional e incentivar as pesquisas nesse sentido. Isso exige vultuosas quantias em dinheiro mas dão alto retorno tecnológico. Melhorar a malha ferroviária para transporte de cargas e passageiros, seja urbano ou interurbano é necessário. Criar linhas e corredores de ônibus eficientes e impor pedágios diferenciados para veículos elétricos e híbridos é outra linha de ação. Muitas dessas medidas são em princípio impopulares. Mas elas tem de vir ligadas a explicações claras sobre as mudanças em nosso planeta, especialmente aquelas que já estamos sentindo.

Sem isso, ou até mesmo com tudo isso, a guerra da água vai chegar. Já não chegou?
Tropa de Choque acionada durante protesto contra a falta de água na cidade de Itu, no interior de SP- World News
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,nascente-do-rio-sao-francisco-seca-em-minas-gerais,1565013

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Evitando um desarranjo intestinal.

Perguntou? Vou respondendo

Disse no Facebook que "não tenho o menor constrangimento de "deletar" pessoas de meu Facebook, Twitter ou qualquer outra rede social". Fato. Mas me perguntaram se não estava preocupado em perder "amigos" com essa postura. Não! Amigos podem brincar, sacanear e até me fazer de bobo. Mas são amigos. Não considero meus amigos as pessoas que fazem algumas, podemos dizer assim, atrocidades que não gosto. Antes que me pergunte qual é eu já lhe faço saber:
  • Propagar mentiras, calúnias, ilações filósóficas sem fundamento ou inverdades. Existe muito lugar para checar as informações. 
  • Falar mal de pessoas ao qual tenho sincero apreço apenas porque você não gosta delas. Se vai fazer isso mostre o porquê. Se tem fatos não vou usar argumentos inúteis. Mas se não tem ¿Por qué no te callas? Inclua aqui as pessoas de Lula e Dilma.
  • Fazer comentários racistas, homofóbicos, violentos, machistas, contra os marginalizados e preconceito religioso. Na verdade preconceito de qualquer tipo.
  • Incitar o desrespeito à lei, contra o patrimônio público ou contra o meio ambiente.
  • Tratar pessoas de caráter duvidoso como hérois. Inclua nesse pacote as figuras de militares da ditadura, Jair Bolsonaro & sons, Silas Malafaia, Marco Feliciano, Demóstenes Torres e segue rio abaixo.
  • Considerar os meios de comunicação como fontes de verdades infalíveis e reais. Principalmente publicações de esgoto como a Veja e similares.
  • Alardear atitudes violentas de policiais, milícias, militares e população em geral como necessárias ou bonitas.
  • Apoiar arbitrariedades.
  • Desconsiderar as pessoas menos favorecidas e atacá-las por serem tratadas com mais carinho de que você que só sabe olhar pra seu próprio umbigo.
Se você se encaixa (mesmo que não saiba) em um dos ítens acima é bem provável que jamais seja meu amigo. Se for, terei o imenso prazer de nunca mais ler o que você publica. Para isso existe o link excluir. Funciona.




Na minha vida conheci (pela TV é claro) alguns bons humoristas. Entre eles alguns que achava top: Francisco Milani, Ronald Golias, Rogério Cardoso, Muçum e Chico Anísio. Francisco Milani passei a admirar quando trabalhou no "Armação Ilimitada" na década de 80. Mas o papel que mais me marcou era a figura do "Seu Saraiva". Era um rabugento com um bordão que terminava com "Tolerância Zero". Nos meus altos e baixos da vida já fui Seu Saraiva, e depois me acalmei ficando meio "ôcríde!!!". Mas acho que essas idiotices que diariamente as pessoas publicam na internet me fez voltar a ser o Saraiva. Acho que a idade me dá esse direito.

Enfim. Como diz o Golias no vídeo abaixo: "tudo que me irrita eu não faço mais!". Melhor não ter nenhum desarranjo né?


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Deus me livre - ou melhor - os votos me livrem

Jesus veio ao mundo em uma época bem difícil. Roma havia conquistado quase todo o mundo. Não fez mais por não haver interesse econômico. O povo temia as centúrias e os guardas pretorianos apavoravam com seus uniformes negros. O povo pagava impostos exorbitantes para Roma. Roma sabia quantos eram, quem eram e onde viviam. Nada escapava. O ambiente político era terrível. Os nobres hebreus mais se preocupavam na "fatrifagia" por poder político do que com o povo. Fariseus e Saduceus se alternavam no poder com jogo sujo da política que se misturava com a religão. O povo oprimido temia a Deus pelas leis que os sacerdotes não cumpriam. Nesse lugar aportou Jesus.

Ele pregou nas sinagogas, no Templo e nas ruas. Em nenhum momento Jesus tratou da revolta política ou misturou os dois temas. Os sacerdotes e seus asseclas até que tentaram. Não se sabe ao certo se queriam fazer Jesus ir contra Roma ou apenas saber se Jesus iria contra Roma (para o apoiar?). Certamente iriam usar o mais conveniente para se manter no poder. Jesus "sacou" no ar. 

É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele lhes disse: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram. (Mateus 22:16-22)


Nessa frase Jesus separa política de religião. Dentro de cada religião pontuam-se aquilo que ela deve lutar: vida, saúde, alimentação e segurança. Cada um deve pensar como votar para proporcionar para a maioria da população o que é melhor. Não se vota para que a sua religião seja a que governe. Se vota para uma população. A religião não pode tomar o poder. Não deve! Religião é de Deus, o poder terreno é de César. Toda vez que uma religião assume o poder terreno acontece uma guerra fatricida. Pouco importa qual religião. Não se pode aceitar que a religião "mande" na política. É um erro!

Jesus nunca disse um único "a" sobre a política, pelo contrário, condenou a forma como os reis se apossavam da religião para obter o poder. Jesus poderia bradar e lutar contra o poder Romano pois este oprimia o povo. Jesus nada disse. Mostrou a Pilatos que a autoridade que ele tinha era dada por Deus. E ainda assim se subjugou a ela. Jesus separou esses poderes assim como a moeda romana tinha dois lados. Num deles havia a face de César. 

Quando um candidato ou candidata se curva em seu programa de governo aos apelos da religião corremos o risco de deixarmos de ter um governo laico. Absolutismo religioso é um risco enorme do qual nos aproximamos perigosamente. Só me parece um complemento ao fascismo que vi nas ruas no início do ano. Deus me livre - ou melhor - os votos  me livrem

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meia Idade

O trem

Eu já tive 10, 20, 30, 40, 50 e continuo seguindo. Fui criança, adolescente, jovem, adulto, experiente e de meia idade. Se não inventarem nada mágico para prolongar a vida, certamente eu já passei da metade. Resta menos para viver do que já vivi. Posso morrer a qualquer momento de choque, ebola, comida estragada na caçarola, acidente, incidente, pereba, carrapato, chato, aids, tiro, trupicão, tédio, atacado por animal peçonhento, atropelado, infarto, engasgo, qualquer coisa supurada, apendicite, rinite e até de chatice. Mas pode ter certeza que irei nessa ferrovia da vida para onde não sei onde é.

A morte conspira contra mim desde o dia que nasci. Me safei dela sabendo e sem saber tantas vezes. Quando criança andava pelo mato, acampava no meio dos bichos, subia nos morros e montanhas, mexia com fogo, pólvora, álcool. Fazia flechas e espetos, espadas de bambu, mas nada. Me cortei feio muitas vezes com facões, facas, pedradas de estilingue. Finquei o pé em cacos de vidro, fundos de vidro de Toddy (as embalagens eram de vidro, acredite!). E nada. Tive umas infecções brabas, doenças estranhas, fiquei de cama, resfriado, gripado, enjoado, emperebado e nada. As nuvens negras me cercaram, enfrentei tempestades de raios, caí da bicicleta muitas vezes, me estrepei em um buraco, caí da pereira, me enrosquei em um tronco embaixo d'água. Passei incólume exceto por uns roxinhos aqui, arranhões e pequenos cortes. Nunca quebrei nada grave - um dedo uma vez e um pequeno osso do pé. Já era adulto. Venci a morte que me cercava.

Mas ela está ali. Aqui. Ao meu lado. Nas mãos de um terrorista maluco. De um doidivanas armado. Daquele viciado em craque fissurado. No motorista imprudente, naquele doutor inexperiente ou até mesmo anquele frasco de remédio que tomei no escuro. Será que tomei o certo? Até hoje, sempre, a vida venceu. Mas devo estar preparado porque uma hora a vida perde. Click. Acabou. Então devo começar uma nova jornada. É tão estranho se ter uma única certeza: de que a cada dia de vida quem ganha espaço é a morte. Natural. Humana. Estranha. Ela vem vindo. A barriga gela. O coração dispara. A adrenalina sobe. É ela. Um trem que não via porque estava depois das montanhas (mas sabia pelo apito) que se aproxima mais e mais. Agora já vejo sua fumaça. Um dia essa locomotiva irá parar em frente à minha estação e terei que ir. Espero poder sentar na janela e olhar aquilo que fiz ir se distanciando. Espero ver que aquilo que fiz foi bonito e me dá orgulho de ir em paz. Então será a hora do adeus. Piuíííííí.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Uma Igreja pobre para os pobres.

O Templo de Salomão

Um colega de trabalho me enviou uma reportagem sobre o recém inaugurado "Templo de Salomão" pela Universal. Passou na Record. Pois eu fiquei pensando na suntuosidade daquele templo e nas palavras de Jesus. O templo custou R$ 680 milhões.

Na minha concepção mais franciscana era hora de parar com todo esse luxo. A Igreja são os homens de todas as religiões. Podemos até discordar, ser ateu, fazer birra e etc. Mas queiramos ou não somos todos filhos de Deus, navegamos no mesmo barco e nos é inflingido um pesado fardo de co-responsabilidade. A frase título acima foi dita pelo Papa Francisco em sua audiência logo após o conclave.

Jesus disse que "onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles". Não falou de local, luxo, qualidade da recepção e nem de nada. As palavras se bastam em si. Não sou contra construir um lugar específico para o culto. Não. Mas seja a Igreja que for, pelo motivo que for, é preciso que o homem, a criação, venha na frente. Coisa ou Gente? Quantos homens eu salvaria com essa quantia dispendida?

É mais do que hora de pensarmos na humanidade. No nosso futuro como raça. Estamos nos destruindo. Os governos tem muito que fazer pelo meio ambiente, saúde, controle da natalidade, fim dos conflitos e tantas outras obrigações. Precisa financiar a energia limpa, processos sustentáveis, limitação do uso de recursos do planeta e por aí vai. Mas a Igreja (as Igrejas) tem de dar exemplo. "Amar por primeiro" como dizia D. Bosco. Temos que pensar primeiro nos pobres de corpo e espírito.

O meu templo é muito mais simples. É um pequeno espaço na alma de um corpo em ruínas onde a presença D'Ele pode ser sentida. Quando me reuno com outros homens e mulheres seja na minha casa, escola, trabalho ou na capelinha da esquina, sendo meu intuito ou não a oração, é certo que basta que me lembre D'Ele que lá Ele estará e se manifestará.

Sempre assim: na simplicidade

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Meu povo brasileiro!

Numa véspera de uma sexta-feira 13, em um dia dos namorados, lá estavam eles. Eram brancos, loiros. Meninas de cabelos lisos, longos e esvoaçantes. Muitos olhos verdes e azuis. Não, não eram croatas. Vestiam uma camisa amarela, canarinha. Eram torcedores brasileiros. A câmera não parava de zapear pelo meio da torcida. Já a mais de duas horas que ela buscava imagens na torcida. Nenhum preto, nenhum moreno ou pardo. Nem mesmo sequer um cabelo pixaim ou até encaracolado. Nada. Encaracoladas apenas as perucas verdes ou amarelas.

Somente após o fim da cerimônia de abertura é que divisei o primeiro negro. De camisa preta e vermelha. De costas. Poxa, não era torcedor. Trabalhava no evento. Alguns segundos depois e encontrei duas morenas. Morenas, não negras - ditas pardas. Ah, se todos os outros torcedores trocassem sua camisa por uma quadriculada de vermelho e branco ninguém ia reparar. Eram europeus travestidos?

E então num determinado momento houve uma vaia. Mandaram a presidenta do país tomar naquele lugar. Mas quem era esse populacho? Quem representava? 47,7% de brancos, 43,1% de pardos e 7,6% de negros. Essa é a população do meu país. No Itaquerão entre 60 mil pessoas encontrei apenas 3. Devia ter muito mais não é? Eu que não percebi. Escondido em algum canto estavam 4500 negros e 26 mil pardos. Não os vi. Você os viu? Bem, deixemos as ironias de lado. Infelizmente eu só vi 3 deles. Oh sim, me desculpem. No campo jogando bola havia um monte. Não dava para incluir não é? Acho que ali estava uma boa representação de nossa população, 3 brancos e 8 pardos.

Então, como dizia, em algum momento parte do estádio vaiou e mandou a presidenta tomar naquele lugar. Dizem que eram dos camarotes que partiam as vaias. Nesses locais os ingressos estavam com o custo aproximado de mil reais. Ali estava a elite desse país. Ela xingou. Xingou da maneira mais baixa. Uma demonstração para todo o mundo (dizem que 3 bilhões de espectadores) do porquê do Brasil ter estado por 500 anos na desigualdade social que esteve. Mostrou que nesse país ainda existe um desejo velado de aparthaide. O desejo de colocar aqueles que não estavam representados no estádio de volta para a senzala. O estádio era agora uma ilha da casa-grande e ela mostrou todo seu ódio por vivermos uma segunda libertação dos escravos. Muito mais sólida. E ali, a poucos metros deles estava uma nova e silenciosa princesa Isabel. E a elite aproveitou para destilar seu ódio.

Não meu amigo e minha amiga, meu inimigo e minha inimiga, não, essa torcida não me representa. E termino dizendo que a beleza do Hino Nacional - sempre interrompido nos eventos públicos na sua metade - continuado quase aos gritos na abertura dessa copa, não indica patriotismo não. O ato apenas reforça a vontade de voltar aos anos 70, onde o Hino era justamente a arma de um regime autoritário. Cantado a plenos pulmões nas paradas militares, desfiles cívicos e nas escolas. Cantados juntos com jargões políticos da direita "ame-o ou deixe-o", "Esse é um país que vai pra frente" e tantos outros. Cantado mas não vivido. Foi lindo, emocionante. Mas é uma pena que por trás desse patriotismo aparente existe uma patriotada.

Não me representam! Fico com aqueles que ficaram fora dos estádios. Com suas TVs. Nas praças. Nos bares. Negros, pardos, índios, nordestinos, nortistas. Fico com aqueles que ainda a pouco deixaram a senzala e assumiram seu lugar na vida. Que podem agora viajar de avião para desespero dos feitores e senhores de engenho. Esse é meu povo! Fico com aqueles que, sendo brancos como eu, entendem o sentido de partilha e de responsabilidade social. Vestem verde e amarelo porque amam esse país e não a eles mesmos. Amam o futebol, esporte de todos.

Eu fico com meu povo. Com meu povo brasileiro!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pálido Ponto Azul

Esse texto sempre me emociona. A Terra vista nas câmeras da Voyager 1. Um pálido ponto azul (Carl Sagan).

"Veja novamente esse ponto. É aqui. Nossa casa. Somos nós. Nele tudo que amamos, todos que você conhece, todos que você jamais ouviu falar, todo ser humano que existiu, viveram suas vidas. Um agregado de nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores, saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, cada rei e camponês, cada jovem casal se amando, cada mãe e cada pai, cada criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada 'superstar' e 'líder supremo', cada santo e pecador na história de nossa espécie que vive lá (aqui) -- num pequeno grão de areia suspenso na luz do sol"(tradução livre minha)

Isso me leva a pensar na atitude do Papa Francisco: plantar uma muda de oliveira juntamente com os líderes de diversas religiões e ainda Shimon Perez e Mahmoud Abbas. A paz que esse pequeno e pálido ponto azul precisa.

Que a oração do Papa Francisco em seu discurso se torne verdade e que todos nós que vivemos nesse pequeno e frágil ponto azul tenhamos uma atitude de paz. Tenhamos uma titude de paz com os outros homens e mulheres e tenhamos uma titude de paz com nosso planeta azul.

A oração:

Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica!

Tentámos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas... Mas os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajudai-nos Vós! Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz. Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: «nunca mais a guerra»; «com a guerra, tudo fica destruído»! Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho. Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão. Mantende acesa em nós a chama da esperança para efectuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz. E que do coração de todo o homem sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra! Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre «irmão», e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém
.

O texto em inglês de Carl Sagan

"Look again at that dot. That's here. That's home. That's us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and forager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician, every 'superstar,' every 'supreme leader,' every saint and sinner in the history of our species lived there -- on a mote of dust suspended in a sunbeam."

-Carl Sagan, "Pale Blue Dot," 1994

terça-feira, 13 de maio de 2014

O Próximo É você!

Mais uma vez preciso reproduzir um texto de terceiros: Pauro Moreira Leita na IstoÉ. Muito Bom.

O PRÓXIMO É VOCÊ

Você pode duvidar mas o retorno de Delúbio Soares a Papuda representa uma ameaça aos direitos de toda sociedade

O retorno de Delúbio Soares a Papuda, sem direito ao trabalho externo, não permite qualquer dúvida. Depois do retorno provável de outros condenados, o próximo da lista é você.

Ao revogar uma jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em vigor desde 1999, quatro anos antes dele próprio ser nomeado para uma cadeira no STF, Joaquim Barbosa criou uma situação nova, que atinge todos nós. Confirmou a disposição de administrar a Justiça brasileira com métodos de ditador.

Ninguém com mais de 21 anos de idade, vacinado, em pleno gozo de suas faculdades mentais, tem o direito de imaginar que se trata de um caso isolado, limitado a duas dezenas e meia de pessoas.

Estamos falando da Justiça sob encomenda, aquela que se pratica para atingir um alvo político, adaptando todos os meios disponíveis para chegar aos objetivos necessários. Você pode chamar isso de "maior julgamento da história." Pode dizer que vai "eliminar a impunidade." Ou pode dizer que é preciso "dar exemplo."

Você pode ter a opinião que quiser sobre os condenados da AP 470. Pode achar que são os maiores criminosos de todos os tempos. Pode achar que são inocentes até que se prove o contrário -- e isso não se provou no julgamento.

Mas precisa compreender que atos de truculencia mais dura, gestos arbitrários, medidas que nada tem a ver com a Justiça, são uma ameaça aos direitos da sociedade inteira -- mesmo que o atingido, em determinado momento, seja uma única pessoa.

Não se imagina que Joaquim Barbosa pretenda levar de volta para a cadeia aqueles 100 000 prisioneiros que estão na mesma situação, no país inteiro. Seria impraticável e desnecessário. O alvo é seletivo, bem definido e tragicamente previsível.

Dois anos depois do julgamento, em 2012, quando se disputava a eleição municipal, no ano de eleições presidenciais de 2014, teremos o circo destinado a caçar – no laço da truculência -- prisioneiros ligados ao PT.

Mais uma vez.

Joaquim Barbosa é um homem mau, como disse o professor Celso Bandeira de Mello, mas sua maldade não é delirante, nem fora de controle. É calculada, planejada e medida. Sabe aonde quer chegar e age com senso de estratégia.

Esquece os réus do mensalão PSDB-MG que nem foram levados a julgamento, embora a denúncia seja mais antiga. Esquece o DEM. Todos, no PSDB e no DEM, tiveram direito ao desmembramento, ao segundo grau de jurisdição. Nenhum será submetido a teoria do domínio do fato. Nenhum terá a pena agravada artificialmente.

Esquece o ex-ministro tucano Pimenta da Veiga, que recebeu 300 000 reais na conta, meses depois de deixar o ministério, em 2003, e sequer foi denunciado até agora. Esquece Eduardo Azeredo, que conseguiu, pela renúncia, ser levado para a primeira instância – José Dirceu, Delúbio Soares, 90% dos condenados da AP 470, não tinham sequer um mandato para renunciar. Mas foram julgados pelo STF, que não possui competência original para tanto, e agora não têm onde cobrar o direito universal a revisão completa do julgamento, como os demais terão caso venham a ser considerados culpados.

E se você ainda pensa assim, “bem-feito, quem mandou ser mensaleiro?!” é bom começar a ler um pouco sobre as tragédias políticas para entender como elas ocorrem.

O enredo das ditaduras sempre encontra personagens obscuros, reais ou construídos pelos meios de comunicação de cada época, que, culpados ou não por episódios difíceis de compreender, servem como uma luva para a consolidação de um poder acima da sociedade.

Até o incendio do Reichstag, que ajudou a fortalecer o nazismo, foi um caso difícil de compreender, lembra?

A Revolução Francesa transformou-se numa ditadura e, mais tarde, num império, pela prisão de seus heróis mais populares.

Um dos primeiros a ir para guilhotina foi Danton, acusado de corrupção e julgado sumariamente. Um dos últimos foi Robespierre, que era chamado o incorruptível. No fim da linha, o morticínio pela guilhotina foi tão grande que até o crescimento demográfico do país foi atingido.

O vitorioso foi um general, Napoleão, mais tarde coroado imperador, com cetro, coroa e manto, titular de um regime onde os direitos democráticos recém-criados foram esfacelados e até o direito do povo escolher seus representantes foi dificultado.

Se você acha que a França do final século XVIII não tem nada a ver com o Brasil de 2014, assista a entrevista a Roberto DÁvilla onde Joaquim Barbosa afirma sua admiração por Napoleão Bonaparte.

Está lá, em vídeo, na internet. Ninguém tem o direito de dizer que não foi avisado.

Como sempre acontece, uma ditadura -- judicial ou não -- só pode consolidar-se num ambiente de covardia institucional.

Sem o silêncio e sem gestos amigos, cúmplices, de quem deveria fazer a democracia funcionar, uma ditadura não consegue se constituir.

Veja o que acontecia em 64, sob o regime militar.

A tortura precisava da cumplicidade de médicos que, de plantão na caserna, examinavam prisioneiros e procuravam orientar, cientificamente, o trabalho dos carrascos. Tentavam prever, macabramente, até onde o sofrimento poderia avançar. Mais tarde, quando o serviço estava terminado, apareciam legistas para assinar atestados de óbito de acordo com a versão conveniente.

No cotidiano, a sociedade daquele tempo precisava ser alimentada por mentiras em letras de forma. Não faltavam jornais nem jornalistas capazes de publicar notinhas onde a morte de militantes pela tortura era descrita como atropelamento e suicídio. Também não faltavam aqueles repórteres que, alimentados pelos órgãos de informação, produziam textos que contribuiam para o endurescimento político, a ampliação do sofrimento de quem não podia defender. Nasceu, então, o repórter Amoral Neto, lembra?

Símbolo da tortura, o delegado Sergio Fleury era glorificado.

Não faltaram, na construção do regime, políticos capazes de aprovar, em Brasília, a vacância da presidencia da República para dar posse aos generais – embora o presidente constitucional, João Goulart, não tivesse deixado o país. Como era preciso legalizar o golpe, o STF deu aval a decisão do Congresso.

Atualize os personagens acima, substitua nomes, endereços. Lembre que vivemos, obviamente, sob outro regime político, de liberade, democracia. Aí comprove, você mesmo, como os papéis e as situações começam repetir-se, caso a caso.

A medicina subordinou-se a política, no caso de José Genoíno. Não vamos julgar o valor científico de tantos laudos medicos diferentes e contraditórios. Vamos admitir o óbvio: Genoíno jamais teria sido examinado e reexaminado tantas vezes se não houvesse o interesse exclusivo de justificar seu retorno a prisão de qualquer maneira.

A oposição a Jango, em 1964, chegou a acreditar que a ditadura seria de curta duração. Só não gosta de admitir a razão de ter cultivado uma crença tão pouco crível. Simples. Queria que o regime militar durasse o tempo necessário para o extermínio político de adversários que não poderiam ser vencidos nas urnas. Imaginava que depois receberia o Planalto numa bandeja. Não foi enganada, como gosta de sugerir. Enganou-se.

Quanto aos jornais, a dúvida é saber qual será o próximo a pedir desculpas pelo papel que desempenhado em 64. Quando começarão a reavaliar o que fizeram na AP 470?

A covardia institucional de hoje repete o comportamento de meio século. O fundamento é o mesmo.

Quem não pode derrotar o PT nem aquilo que ele representa – confesso que muitas vezes é difícil saber o que realmente importa hoje – espera que medidas de ditadura ajudem no serviço que eles próprios não conseguem realizar nas urnas. Essa é a razão fundamental do silêncio.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Duas Rosas

Duas Rosas

Na minha rua existiam duas rosas.
Uma era preta, a outra branca.
Rosa preta se foi em um dia cinza.
As mamangavas ficaram sem seu néctar.
Branca por cá ficou.
Depois de um tempo a rosa branca entristeceu-se.
Sua pétalas amarelaram,
Suas folhas murcharam.
Os beija-flores voavam em seu entorno.
E pediam ao jardineiro dos céus por ela.
O jardineiro afofou a terra, podou os ramos.
Adubou seus pés e limpou os galhos.

Hoje, num dia chuvoso, eu vi Rosa Branca.
Vestia colorido como a primavera.
Um bom dia e um sorriso tímido.
O primeiro em tanto tempo.
E Rosa branca fez uma brincadeira.
Me disse que ia sambar no Braz.
Rosa preta ainda vai ter que esperar.
Pois Rosa branca ainda vicejará no jardim.
Minha rua ficou de novo mais colorida.
Os beija-flores voltaram a sorrir.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Espécie Sob Sério Risco

Em geral não reproduzo aqui pensamentos de outrem. Mas esse parece aquele que tive vontade de ter e jamais tive. É o que penso e que por algum motivo saiu da boca de outra pessoa, Tomaz Wood Jr, na Carta Capital. Por favor, leia com atenção. Tenho cá com meus botões que você, sendo aluno, não lerá. Não faz parte de suas atividades diárias pensar em algo útil, algo que mude o país através de você. Se você é estudante devore essa informação. Quem sabe você um dia se torne professor, formulador de políticas públicas ou até mesmo o pai de novos estudantes, não de alunos. Se você é estudante da causa e não mero espectador que vê o mundo pela janela do Jornal Nacional, leia também. Quem sabe me ajude ao menos transmitir essa preocupação ecológica da extinção dos estudantes.

Procuram-se estudantes

(Tomaz Wood Jr. - Revista Carta Capital)
Diz-se que uma espécie encontra-se ameaçada quando a população decresce a ponto de situá-la em condição de extinção. Tal processo é fruto da exploração econômica e do desenvolvimento material, e atinge aves e mamíferos em todo o planeta. Nos trópicos, esse pode ser o caso dos estudantes. Curiosamente, enquanto a população de alunos aumenta, a de estudantes parece diminuir. Paradoxo? Parece, mas talvez não seja.

Aluno é aquele que atende regularmente a um curso, de qualquer nível, duração ou especialidade, com a suposta finalidade de adquirir conhecimento ou ter direito a um título. Já o estudante é um ser autônomo, que busca uma nova competência e pretende exercê-la, para o seu benefício e da sociedade. O aluno recebe. O estudante busca. Quando o sistema funciona, todos os alunos tendem a se tornar estudantes. Quando o sistema falha, eles se divorciam. É o que parece ocorrer entre nós: enquanto o número de alunos nos ensinos fundamental, médio e superior cresce, assombram-nos sinais do desaparecimento de estudantes entre as massas discentes.

Alguns grupos de estudantes sobrevivem, aqui e acolá, preservados em escolas movidas por nobres ideais e boas práticas, verdadeiros santuários ecológicos. Sabe-se da existência de tais grupos nos mais diversos recantos do planeta: na Coreia do Sul, na Finlândia e até mesmo no Piauí. Entretanto, no mais das vezes, o que se veem são alunos, a agir como espectadores passivos de um processo no qual deveriam atuar como protagonistas, como agentes do aprendizado e do próprio destino.

Alunos entram e saem da sala de aula em bandos malemolentes, sentam-se nas carteiras escolares como no sofá de suas casas, diante da tevê, a aguardar que o show tenha início. Após 20 minutos, se tanto, vêm o tédio e o sono. Incapazes de se concentrar, eles espreguiçam e bocejam. Então, recorrem ao iPhone, à internet e às mídias sociais. Mergulhados nos fragmentos comunicativos do penico digital, lambuzam-se de interrogações, exclamações e interjeições. Ali o mundo gira e o tempo voa. Saem de cena deduções matemáticas, descobertas científicas, fatos históricos e o que mais o plantonista da lousa estiver recitando. Ocupam seu lugar o resultado do futebol, o programa de quinta-feira e a praia do fim de semana.

As razões para o aumento do número de alunos são conhecidas: a expansão dos ensinos fundamental, médio e superior, ocorrida aos trancos e barrancos, nas últimas décadas. A qualidade caminhando trôpega, na sombra da quantidade. Já o processo de extinção dos estudantes suscita muitas especulações e poucas certezas. Colegas professores, frustrados e desanimados, apontam para o espírito da época: para eles, o desaparecimento dos estudantes seria o fruto amargo de uma sociedade doente, que festeja o consumismo e o prazer raso e imediato, que despreza o conhecimento e celebra a ignorância, e que prefere a imagem à substância.

Especialistas de índole crítica advogam que os estudantes estão em extinção porque a própria escola tornou-se anacrônica, tentando ainda domesticar um público do século XXI com métodos e conteúdos do século XIX. Múltiplos grupos de interesse, em ação na educação e cercanias, garantem a fossilização, resistindo a mudanças, por ideologia de outra era ou pura preguiça. Aqui e acolá, disfarçam o conservadorismo com aulas-shows, tablets e pedagogia pop. Mudam para que tudo fique como está.

Outros observadores apontam um fenômeno que pode ser causa-raiz do processo de extinção dos estudantes: trata-se da dificuldade que os jovens de hoje enfrentam para amadurecer e desenvolver-se intelectualmente. A permissividade criou uma geração mimada, infantilizada e egocêntrica, incapaz de sair da própria pele e de transcender o próprio umbigo. São crianças eternas, a tomarem o mundo ao redor como extensão delas próprias, que não conseguem perceber o outro, mergulhar em outros sistemas de pensamento e articular novas ideias. Repetem clichês. Tomam como argumentos o que copiam e colam de entradas da Wikipédia e do que mais encontram nas primeiras linhas do Google. E criticam seus mestres, incapazes de diverti-los e de fazê-los se sentir bem com eles próprios. Aprender cansa. Pensar dói.

Disponível em http://www.cartacapital.com.br/revista/794/procuram-se-estudantes-7060.html

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ministério do Ensino

Quando pensamos na educação no Brasil tenho um pressentimento de que cometemos alguns erros. O primeiro deles é uma confusão sobre o papel de cada um na formação da pessoa. Não na educação mas sim na formação. Segundo o dicionário a educação é a ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais nas pessoas. Mas essa é uma educação mais ampla, exatamente a que chamo aqui "formação".

A formação é calcada em um tripé: educação, instrução (ensino) e aprendizagem. Em cada uma dessas o ator é específico. Na educação é a família. No ensino a escola e sua estrutura. Na aprendizagem o próprio aluno. Não formamos ninguém se faltar uma das partes. Se a família deixa de dar educação falta o respeito, os bons modos e o caráter. Se o sistema escolar deixa de ensinar falta conteúdo para que o aluno aprenda. Falta também a infra-estrutura. Se o aluno não estuda ele não interna o aprendizado, esquece. Ao governo cabe o ensino. Dar condições para que o aluno, cidadão que respeita, que quer aprender, aprenda. O Governo deve fazer isso desde garantir uma boa alimentação (merenda) ao educando até a formação do professor que tem a tarefa de ensinar. Deve pagar bem para aqueles que ensinam de forma que eles possam se dedicar aos seus alunos, seja preparando aula, seja buscando recursos para recuperar aqueles com dificuldade e dando uma boa aula com exercícios sólidos e bons testes. Não há como se cobrar de um professor que leciona em 3 escolas, trabalha 60 horas semanais e não dedica tempo nem a sua própria família.

Mas cabe aos pais dar a educação. Colocar os princípios morais para as crianças e adolescentes. Isso não é tarefa fundamental da escola. Não deve ser terceirizado. Hoje em dia os pais tendem a delegar isso para a escola. Errado! Além disso, por falta de educação os alunos se sentem donos de suas vontades. São crianças e adolescentes inconsequentes que, sem saber direito o que lhes espera, desdenham os estudos. Priorizam aquilo que deveria estar em segundo plano. Da mesma forma transferem suas necessidades de aprendizado para as escolas. Acham que existe um sistema mágico de transferência (download) de conhecimento para suas cabeças. Também não fazem sua parte.

Nos níveis universitários o Governo Federal é o responsável constitucional pelo ensino. Nos níveis fundamental e médio a responsabilidade passa aos estados e municípios. Além de investirem 25% do que arrecadam tem ainda repasses do Governo Federal. É vizível o problema nesses níveis. Daí sou favorável a federalização da educação, especialmente no caso do ensino médio (Sen. Cristovam Buarque também propõe isso). Quem sabe assim o dinheiro é bem investido. Especialmente em salários.

Para evitar que os pais e alunos parem de pensar que educação como um todo é apenas responsabilidade da escola eu proponho a mudança do nome Ministério da Educação e Cultura para Ministério do Ensino e Cultura. Nem precisa mudar a sigla MEC.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma bomba



As vezes na vida nos vemos em uma situação difícil. Uma análise simples nos mostra que muitas coisas não funcionam. Outras funcionam em parte.

É quase impossível achar solução e não dá para fazer quase nada. No momento estou me sentindo numa situação semelhante. Isso me fez lembrar da situação japonesa no final da Segunda Guerra, em 1945. Não havia saída. Os aliados haviam tomado as ilhas no entorno. As batalhas nas frentes distantes haviam sido perdidas. Birmaneses, australianos e ingleses, entre outros, derrotavam as valentes e obstinadas forças japosesas. Os suprimentos não mais chegavam aos fronts avançados. A poderosa esquadra americana cortava qualquer entrada e saída de suprimentos. Não havia mais combustível para os aviões Zero. No desespero as máquina voadoras viravam mísseis com os pilotos Kamikazes dentro.

Parecia um fim melancólico e, considerando a obstinação japonesa, uma invasão em suas terras seria um derramento absurdo de sangue. Então o governo americano manda um B-29 jogar uma bomba sobre Hiroshima. O avião batizado de Enola Gay em homenagem à mãe do piloto joga a 'little boy' que explode nos céus da cidade. Era 6 de Agosto de 1945. Três dias depois era a vez de 'fat man' explodir sobre Nagasaki.

Mas as bombas trouxeram a paz. Uma paz duradoura que varreu o passado de atrocidades contra os povos invadidos. A bomba modificou os renitentes. A bomba foi o início de uma nova era. As vezes precisamos de bombas. Bombas que alterem vidas, negócios, estratégias, pensamentos e teimosias. Bombas que tragam a paz. Nesse momento antevejo uma bomba. Uma 'Fat man' que encerre esse período estranho que eu estou vivendo. Que exploda lá em cima e traga seus ventos radiativos para queimar tudo. Limpar tudo. Como já disse um dia Gilberto Gil:

A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Quem sabe a paz?

quarta-feira, 26 de março de 2014

UMA SAUDADE EM PRETO E BRANCO


(poeminha pelos 50 anos do que nunca deveria ter sido)


Estou com saudade em preto e branco.
Onde as lutas eram uma só.
Meio tons não, nem solavancos.
Não havia lama, água e pó.

Tô com saudade da democracia.
Das diretas e da Clara Nunes.
Saudade de lutar noite e dia.
Sócrates e direito alhures.

Saudade suave do Jobim.
Das mãos dadas e cruzadas.
Das passeatas sem fim.
Das praças sempre lotadas.

Saudade do viver pleno direito.
Do Vinicius e Toquinho
Gonzaguinha e o respeito.
Cantos, poemas, banquinho.

Hoje nessa luta colorida.
foi-se o foco, a verdade.
Muitos tons, nenhum Tom.
Menos luta, mais vaidade.

Não se dão mais as mãos.
Cada um proteje o seu.
Antes éramos irmãos.
Irmandade se perdeu.

Nem todos os gris que eram.
Hoje se conservam assim.
Muitos adquiriram cores.
Não estão perto de mim.

As lutas pulverizaram-se.
Esqueceram o bem comum.
Triste sina nos reserva.
Cada um é cada um.

Quero voltar à luta.
Que travei e vi travar.
Quero gritar como gritei.
Por alguma coisa já.

Tanta beleza perdida.
Tanto cravo já murchou.
Inda hei de ver na vida.
no fundo o que ainda sou.

Um velho adolescente.
Cujo momento passou.
Mas que traz em sua mente.
Um passado que voou.

Ai que saudade em preto e branco.
Ai que alegria de estar lá.
Naquele tempo de luta e tranco.
Que jamais, jamais morrerá.

terça-feira, 25 de março de 2014

Zumbi Está Sendo Bom ou Mal?

Quando eu era adolescente, 16 , 17 por aí, eu participei de um grupo de teatro em Piquete. Com a direção do Sérgio Maduro, artista e poeta de Piquete, já falecido, montamos diversas peças. Uma delas, "O Arena Conta Zumbi" de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo. Logo no início da peça os atores cantam a que se propõe esse espetáculo. Tentar achar a verdade sobre Zumbi dos Palmares. Uma frase é cantada dizendo o seguinte: "Há lenda e há mais lenda, há verdade e há mentira. De tudo usamos um pouco de forma que servirá a entender quem está com a verdade e quem está com a mentira"(1'10'' do vídeo).

Usando um pouco de minha veia filosófica eu fico pensando nos problemas estruturais do Brasil. Transporte, educação, burocracia, ciência, tecnologia, inovação e tantas outras coisas. Tem tanta coisa que precisa ser corrigida que dá um nó nas idéias. Tenho visto muito palpite e muito mais desinformação. Carecem idéias, sobram questionamentos e críticas. Ontem em reunião com uma pessoa do governo Japonês discutíamos isso. A infraestrutura do país e a falta de planejamento. O que me deixa uma pulga imensa atrás da orelha é ver que é muito mais fácil trabalhar com as pessoas de menor grau de educação, mas ainda assim educados, do que com os de alto grau, os "ditos e sabidos" doutores - quer sejam de título real ou de tratamento. Os "intendidos" não querem se enquadrar nas burocracias e planejamentos necessários. Se sentem em um mundo que flutua acima das nuvens. Lá em cima daquele olimpo virtual eles olham os pobres mortais aqui embaixo querendo atrapalhar aquele velho status quo onde as coisas aconteciam quando eles iam até as senzalas e mandavam fazer na hora.

Então aparecem notícias e comentários que são lendas e mais lendas que precisam ser verificadas. Isso nos ajuda a focar nas reais necessidades estruturantes desse país. Pensar em quem está com a verdade é fundamental. E a verdade é sempre inteira pois uma meia verdade é uma mentira.

Afinal Zumbi tem sido bom ou mal?

Nessa conversa que tive com o enviado do governo do Japão pude perceber a visão externa e bem asiática sobre o Brasil. Nossa falta de planejamento estruturante nos leva a certas vergonhas institucionais. Essa visão externa do Brasil, pelos fechadinhos e maravilhosos olhos asiáticos, não são mentiras. Realmente somos desorganizados e temos uma tarefa hercúlea em nos profissionalizar. Mas esse caminho obrigatoriamente passa pela verdade dos fatos. Não dá para fincar estacas em terreno pantanoso da mentira e construir o arcabouço de um país mais organizado. Fatos. É preciso que usemos fatos.

Usando como referência a teoria dos Fractais (Benoît Mandelbrot) que trata da autossimilaridade exata, ou seja, a forma em que a autossimilaridade é mais marcante, evidente (e o fractal é idêntico em diferentes escalas), posso sem medo de errar inferir que as redes sociais também demonstram essa particularidade. Vejo nelas a mesma coisa de quando olho o macro. Para fazer valer um fato pessoas utilizam mentiras e meias-verdades. Daí discorrem-se teorias e propõe-se ações. As ações são então resultados das análises de fatos falsos. Logo qualquer projeto, idéia ou proposta não pára em pé. O mesmo acontece em grandes escalas. Faltam fatos-verdades para assentar as decisões.

Dessa maneira decisões que chamamos de certeza se convertem em pó e ficamos com medo em acreditar nelas. Pior é quando isso é visto lá de fora. Não é a toa que para algumas nações somos paizinho não confiável.

Mas antes de exigir dos governos (Federal, Estadual e Municipal) é preciso que mudemos. Uma mudança de dentro pra fora. É preciso que finquemos nossos fundamentos em verdades. Assim é possível ver "A" verdade. E ver a verdade não é simples. Temos que buscar os fatos, e mais trabalhoso ainda, buscá-la em diversas fontes. Depois de ver é preciso julgar. Para julgar é preciso entender as motivações que levaram ao fato. Novamente excluir as lendas e mentiras. Entender nosso passado ajuda. Entender a estrutura de poder e a estrutura dominante. O Passado. Então julgamos e temos que tomar ações. Ações verdadeiras e planejadas. Com cuidado. Analisando os riscos. Nessa hora vale uma dose bem razoável de humildade. Afinal não podemos agir segundo a nossa óptica. É preciso olhar com outros olhos. Por exemplo: nas questões estruturantes do Brasil, é possível olhar com o olhar sulista? Já dizia o grande Milton:

"A novidade é que o Brasil não é só litoral!/É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul./Tem gente boa espalhada por esse Brasil,/que vai fazer desse lugar um bom país!"

Quando falamos de "Bolsa Família" por exemplo olhamos com olhares sulistas. Oras, precisamos olhar com os olhos daqueles que passam fome. Precisamos olhar de uma forma diferenciada e analisar profundamente toda a estrutura por detrás do modelo. Quais as medidas estruturantes que ele trás? É só assistencialismo mesmo? É compra de voto como dizem alguns? Sem saber a verdade não dá para analisar e propor outra estrutura.

“Os donos dos meios de produção dizem que não se pode dar o peixe ao pobre, que é preciso ensinar a pescar; mas a partir do momento em que destruímos seu barco, roubamos sua carga e lhe colocamos grilhões, temos de começar por lhes dar.”(José Mujica)

Espero que em um dia próximo o Brasil aprenda a se estruturar. Que para isso isso use as bases rochosas da verdade: inteira, factual. Espero que mudemos nós mesmos, de dentro para fora, e mais do que somente críticas que mostremos caminhos possíveis. A crítica cansa. A crítica mentirosa enerva e a falta de proposta desanima.

Ganga Zumba vem é aí!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Pulei pela Janela

Da primeira vez eu mesmo deixei o Facebook. Não suportava mais ver tanta coisa sendo publicada e espalhada sem que sequer dessem uma pequena investigada. Deixei o face e fiquei fora. Alguns amigos virtuais disseram que haviam ficado tristes. Gostavam do que eu publicava. Mas eu, eu, conhecido nas sendas do INPE como "nervo" ou ainda "GG", devido a minha falta de paciência, não aguentava mais. Havia acabado a paciência. Ninguém mais, ou quase ninguém, falava sobre isso. Ninguém, ou quase ninguém, se importava em tantas mentiras. Deixavam rolar. Eu indignado e sem paciência disse adeus. Bye bye rede social. Passei pro meu querido google+. Nada de face. "Tanta farpa tanta mentira, tanta falta do que dizer, nem sempre é "so easy" se viver". Dizia Lulu Santos, o guru. Mas meu coração ficava pensando assim: o que será que estão dizendo por lá? Amigos vinham comentar: "Você viu o que o governo fez? Está matando as criancinhas nos postos de saúde....etc". E eu perguntava: de onde você tirou isso? E então a resposta: "está lá no facebook, todo mundo já está postando". Pois é. Então me disse o guru: "Hoje eu não consigo mais me lembrar de quantas janelas me atirei e quanto rastro de incompreensão eu já deixei. Tantos bons quanto maus motivos, tantas vezes desilusão". Havia me atirado de mais uma janela. Então voltei. Então passei de novo a perder meu tempo desmascarando as bobagens, as mentiras e as calúnias. Como sempre, essas não acabam. Existe uma central de boatos e de mentiras graçando pelas redes. Aquilo que era trabalho da fofoqueira da esquina e da rádio peão virou viral. Mas agora com recursos eletrônicos. Tem até imagem para mostrar.

Então não é possivel que seja falso, dizem alguns. Não é? Pena, mas é sim. Falso porque pegam vídeos de um país e dizem ser aqui. Juntam trechos de entrevista para dar conotação de pensamentos jamais pensados. Ou colocam personagens famosas e interlocutores estrangeiros para tornar uma mentira tão real que é impossível rebatê-la. Então eu grito: GENTE USE SUA INTELIGÊNCIA. É um dom que Deus lhe deu, um talento. Não enterre seu talento. "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes".

Mas justo quando eu pensei que estava quase sozinho, ele, o pensador mais atual e justo, aquele que detém minha admiração, o nosso querido (nosso porque pouco importa se você é de outra religião) Papa Francisco vem nos dizer:

"Para mim, os pecados da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’. Mas a desinformação é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a outra metade"
.

Lavou minha alma. E ainda que em algum momento eu tenha me atirado pela janela, ato que fiz inúmeras vezes e por certo acabarei um dia fazendo de novo - aliás quem não é humano que está lendo isso? - valeu a pena ter voltado. Agora não sou uma voz que soa no deserto. No meu deserto unem-se novas vozes. Quem sabe um dia seremos um coral de vozes nesse deserto chamado internet.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Não abra as portas do fascismo, feche as portas da generalização.

Li outro dia um post no face que dizia algo assim:
Todo político é safado e ladrão.Todo pastor é ladrão.Todo padre é pedófilo.Toda mulher com shortinho é puta(...)

Generalizar. Como é triste isso. Poderia escrever aqui:
Todo funcionário público é vagabundo. Todo baiano é preguiçoso. Todo nordestino é folgado. Todo gaúcho é arrogante. Todo francês é estúpido. Todo americano é ignorante. Todo cubano come criancinha.

Onde quer que eu generalize eu vou ferir uma pessoa. Quem sabe todo um grupo delas. Criar estereótipos e descer a lenha neles é fácil. Difícil é quando estamos no meio deles (no meu caso como funcionário público).
Esse tipo de abordagem foi muito usado pelos fascistas.
Todo judeu é ladrão!
A frase acima te lembra alguma coisa?. Existem variações: não são todos, só 80%. Mas essas variações carecem de fundamentos. Existem as mais elaboradas:
Todo artista de circo que se torna deputado é burro. Todo jogador que disputa a eleição tem somente interesse próprio.
Assim vão aumentando as "verdades":
todo padre que se interessa por política é um frustrado.

Mas na verdade basta eu conhecer um caso que rotulo toda uma raça. Basta a mídia martelar todo dia. No jornal das 8h, 7h sei lá. Mostra-se um padre pedófilo hoje na emissora evangélica, amanhã, depois. As vezes a mesma gororoba que sobrou de ontem que volta requentada numa panela diferente. Pronto: todo padre é pedófilo. Ou aqueles poucos deputados que estão envolvidos nesse ou naquele caso. Não importa se existem provas. O importante é bater dia após dia. Sem dó. Pronto: todo político é corrupto.

Sua cabeça não foi feita somente para usar boné. Todo mundo tem dentro dela um cérebro que, uns mais que outros, funciona muito bem quando pensamos, lemos, avaliamos e concluímos coisas. Dizia minha sogra: "antes de abrir a boca ligue o cérebro". Posso complementar assim: antes de escrever algo ligue o cérebro. Antes de generalizar tome cuidado porque você terá amigos, parentes ou até você mesmo no meio do caldeirão onde você coloca todos.

É sempre bom lembrar que sua generalização sobre os analfabetos ou semi-analfabetos políticos pode ter dado com os burros n'água. Um exemplo é o Dep. Tiririca que é considerado o nono melhor político do Brasil pelo site Ranking Político. Nesse site a maioria dos deputados federais é considerada regular, boa ou ótima. Poucos tem pontuações deploráveis. Da mesma maneira chamar os filiados ao PT de petralhas é generalização burra. Tucanalha também é bobagem. Tem gente boa e gente ruim e corrupta em todo lugar. Não abra as portas do fascismo, feche as portas da generalização. Se continuar assim um dia você pode estar do lado de dentro de um campo de concentração.